Ser mãe de dois é recompensador, mas não é, nem de longe, um conto de fadas. Além das tarefas em dobro, existem os desafios de manter a rotina de cada um, equilibrar os ânimos, o ciúme, a atenção, o amor.

É verdade que eu sempre quis ter mais de um filho, mas até aí era só uma vontade.

 

A realidade

Meu marido e eu super planejamos o nascimento do Pietro, meu primogênito. Quando ele nasceu, há quatro anos, percebi que a maternidade real é um pouco [ou muito…] mais difícil do que parece.

Mesmo assim, a ideia de ter um segundo filho nunca me saiu da cabeça. Nossa meta era começar a pensar nisso no final de 2017…

No entanto, engravidei do Bento pouco antes do Natal de 2016… Posso dizer, sem rodeios, que fiquei mais chocada do que feliz nesse momento… Foi complicado.

Na ocasião, eu tomava um medicamento específico para controlar a ansiedade. Também cheguei a fazer uma ressonância, por conta de uma dor na coluna.

Quando descobri a gravidez, já estava de sete semanas. Imediatamente, parei a medicação e torci para que os exames de imagem não repercutissem na saúde do meu mais novo bebê.

 

O susto

Só queria ter certeza de que tudo estava bem.

Logo no primeiro ultrassom, veio a notícia: descolamento de placenta.

A gente sempre escuta falar, mas só entende a gravidade quando passa por isso.

Por conta desse diagnóstico, fiz repouso por 15 dias e iniciei uma medicação específica para ajudar na gestação. Além disso, repetia o ultrassom a cada cinco dias.

Sou eternamente grata à obstetra que acompanhou meu pré-natal. Com ajuda dela, foi menos dolorido enfrentar os desafios que eu ainda tinha pela frente.

 

As restrições

Depois do repouso, voltei ao trabalho, tendo que seguir algumas recomendações: não pegar peso, não subir ou descer escadas e nem ficar abaixando.

O início da gestação foi bem difícil. Além dos enjoos e outros sintomas normais dos primeiros três meses, tive de lidar com a abstinência da medicação para a ansiedade e os reflexos dos hormônios que precisava tomar.

A terapia me ajudou muito a enfrentar os altos e baixos meus e da gestação.

Por Deus, tive excelentes profissionais me acompanhando, além de um marido muito companheiro.

Após o 3º mês, a placenta se posicionou corretamente e parei com os hormônios.

Por outro lado, os enjoos só aumentaram com o passar dos meses. E eu, que já enjoei os nove meses da primeira gestação, não conseguia relaxar nem curtir os avanços da segunda…

 

O equilíbrio

Ainda com o Bento na barriga, percebi que ser mãe de dois é maravilhoso, mas é um exercício diário de paciência e equilíbrio…

Pietro queria colo em pé, queria brincar no chão… Mas eu precisava me cuidar e cuidar do Bento. Era manha na certa.

Aos poucos, a barriga aparecia.

Meu pequeno homenzinho foi percebendo que tinha algo diferente. No início, parecia não compreender direito. Depois, a manha só aumentou.

Essa parte é bem complicada: como explicar que o irmão vai chegar, mas que o amor vai ser o mesmo, que tem espaço para os dois e que é legal ter irmão…

Concordo que “amor de mãe não se divide, se multiplica”. Mas, sem dúvida, essa não é a melhor explicação para uma criança de quatro anos.

 

O parto

Com sete meses, lá fui eu para o hospital com dores. Bento tinha pressa. Por recomendação médica, tomei injeção para fortalecer o pulmão dele, voltei para casa com mais remédios e uma lista imensa de cuidados e repouso.

Iniciei os preparativos para receber meu pequeno. Dessa vez, decidi não fazer chá de bebê. Fomos comprando como dava.

Com 38 semanas e um dedo de dilatação, entrei em licença maternidade.

Eu queria muito o parto normal, por conta da rapidez na recuperação, mas não teve jeito.

Nos dias que se passaram, apesar de quatro dedos de dilatação, Bento estava maior que o esperado e a recomendação foi marcar a cesariana.

Bento nasceu no dia 24 de julho de 2017.

 

O irmão

Expliquei para o Pietro que eu iria para o hospital e que, quando voltasse, traria o Bento comigo.

Correu tudo bem no parto e no dia seguinte, lá foi o Pietro conhecer o irmãozinho.

Ver os dois juntos foi uma das coisas mais emocionantes e engraçadas que já senti.

Um amor que se materializava na curiosidade e na vontade de ter o outro por perto. Na verdade, o cenário real era um todo estabanado tentando segurar um recém-nascido nos braços…

 

Os desafios

Hoje, com quatro anos, Pietro continua manhoso e com ciúmes do Bento.

Apesar dos excessos, tenho visto o amor se sobressair e transbordar em cada gesto e em cada olhar. São dois companheiros.

Nesse meio tempo, saímos de nossa cidade e viemos para o litoral. Novas amizades. Novos ambientes.

Para o Pietro, uma revolução e tanto. Além de um novo irmão, ele também tem uma nova casa, uma nova escola, novos professores, novos coleguinhas…

Cada um tem uma personalidade diferente, um humor, uma fome, um sono… Cada dia é uma nova descoberta, um novo desafio, assim como acontece em tantos outros lares.

Sigo na difícil tarefa de ser mãe de um e, agora, de dois, o que – por si só – já foi um desafio e tanto até aqui.

 


 

Gheisa Ikeda é mãe do Pietro, de 4 anos, e do Bento, de 1 ano. Na foto, a família reunida junto do maridão, André.

Crédito das fotos: Arquivo pessoal