A jornalista Samantha Maia acredita na celebração da data, porém, questiona os padrões e o que é, realmente, ser mãe
A jornalista Samantha Maia*, integrante do grupo feminista Magic Minas**, traz mais um olhar questionador sobre o Dia das Mães. Para ela, faz todo o sentido celebrar, se a mãe se sente contemplada pela data e quer isso.
Porém, a sociedade vive um momento muito mais complexo do que esse. “É hora de se questionar e repensar determinados padrões machistas e opressores estabelecidos sobre a maternidade”, revela. Acompanhe a íntegra da entrevista.
Para você, qual a importância de celebrar o Dia das Mães?
Samantha: Eu acredito que o Dia das Mães tem tanto um aspecto comercial, de incentivo ao consumo, quanto uma carga afetiva importante, já que é uma tradição em muitas famílias se reunir e celebrar.
Na minha família, quando minha avó paterna era viva (ela teve dez filhos), a família toda sempre se reunia na sua casa. Fazíamos dessa forma, porque sabíamos que era importante para ela ver a família unida, compartilhando comida, conversando, fazendo companhia. Hoje, normalmente, passo a data na casa da minha mãe, e o sentido continua o mesmo.
Se considerarmos que o feminismo significa dar voz às mulheres e o direito de que cada uma seja o que deseja ser, se as mães se sentem contempladas pela data ao serem celebradas e acolhidas pelas suas famílias, eu acho que é uma data importante.
O próprio Dia das Mães foi criado por uma feminista… como você avalia esse fato nos dias atuais?
Samantha Araujo: Para mim, a data envolve muito carinho, reencontros e um reconhecimento dito, falado, sobre o papel das mães na vida dos familiares.
Pode, inclusive, ser aproveitada como um momento de se questionar e repensar determinados padrões machistas e opressores estabelecidos sobre a maternidade.
O feminismo possibilita problematizar questões como o porquê as mães são mais responsabilizadas pelos trabalhos domésticos, ou por que a presença das mães é mais cobrada que a dos pais, e assim por diante.
E o impacto da questão mercadológica nas comemorações pela data?
Samantha: O impacto mercadológico sobre datas comemorativas faz parte da sociedade capitalista em que vivemos. O comércio se planeja e investe, sempre ‘dê olho’ em todas as datas ao longo do ano.
Mas, por que itens de utilidade doméstica, que servem para toda a família, são presentes para as mães? Ou por que a figura da mãe é sempre lembrada na publicidade pela bondade, pelo amor, pela doçura como se fossem características intrínsecas a elas? Será que esse padrão não representa, na verdade, um peso para as mulheres? E será que todas as mulheres querem ser mães?
Esses são questionamentos trazidos pelo feminismo e que eu acho que hoje em dia estão muito presentes.
Diante de uma sociedade que, hoje, vive um momento de maior abertura e de diversidade de gêneros, o Dia das Mães ainda deve ser comemorado?
Samantha: Eu acredito que a data pode ser comemorada sim, mas repito, o padrão sobre o que é ser mãe pode e deve ser questionado, repensado.
Há famílias em que a mãe é a principal mantenedora da casa; em outras ela divide a tarefa com um marido ou assume a tarefa de cuidadora da casa. Há também famílias que têm duas mães, ou na qual outros membros, como avós, irmãs ou tias assumem o papel de mãe.
E há famílias formadas por dois pais, que não são menos família por não contar com uma figura feminina materna ali.
Esses são apenas exemplos de famílias que existem e que devem ser consideradas.
Acho, inclusive, que essa abertura e essa diversidade de gênero que você cita ainda não se refletem no mercado publicitário, por exemplo. Ainda hoje as propagandas reforçam padrões antiquados sobre a maternidade e exclui a diversidade quando trata do Dia das Mães.
Você se define como feminista? Por quê? Você integra algum movimento? Qual?
Samantha: Sim, eu sou feminista porque eu defendo a igualdade de direitos e de condições entre mulheres e homens na sociedade. Como não temos essa igualdade, é papel do feminismo hoje colocar a desigualdade em questão e lutar por mais espaço e direitos para as mulheres.
Como disse antes, questionar o papel das mães é uma provocação trazida pelo feminismo, assim como defender o direito de escolha da mulher sobre ser ou não mãe.
Eu faço parte hoje de um coletivo de basquete chamado Magic Minas, que é aberto a todas as mulheres que queiram praticar o esporte por lazer em espaços públicos. É um grupo feminista em sua visão e em sua prática, que tem lutado pelo direito das mulheres ocuparem espaços públicos com o esporte.
* Samantha Maia Araujo é jornalista e produtora de conteúdo. É integrante do Magic Minas, participando dos treinos e ajudando como voluntária no trabalho de comunicação do coletivo.
** O Magic Minas é um time de basquete feminino amador para garotas acima de 20 anos, atuante em São Paulo (SP). A bandeira do movimento é facilitar o acesso aos esportes coletivos pelas mulheres. Mais informações: https://www.facebook.com/asmagicminas/
Crédito da foto do cabeçalho: Arquivo Magic Minas.
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