Psicóloga avalia o papel de mães e pais na sociedade atual e propõe um exame de consciência…

Ser e ter são verbos bastante distintos, especialmente quando o assunto é maternidade ou paternidade. Ser mãe ou ser pai, por exemplo, é diferente de simplesmente ter filhos. Tem muita mãe que é mãe, e muitas que só têm filhos. E o mesmo acontece com os pais…

Para a psicóloga Natalia Castanha*, o autoconhecimento das mães e dos pais será fundamental para a relação que irão estabelecer com seus filhos. Segundo ela, TER é mesmo muito diferente de SER.

Nem todos estão preparados para serem mães ou pais. Em alguns casos, essa questão vai sendo amadurecida dentro de cada um, até se tornar um desejo realmente e se concretizar com o nascimento do filho. Em outros casos, não é um desejo, não é uma vontade e os pais optam por não terem filhos. Esses dois seriam os cenários ideais.

Porém, há pessoas que se sentem pressionadas pela sociedade para terem filhos e acabam, simplesmente, tendo.

O Ter

“Num mundo materialista e consumista, o TER é mais valorizado do que o SER. Assim, muitos buscam ter casas, carros, carimbos no passaporte… ter filhos, ter dinheiro para pagar as melhores escolas, para fazer festas, para pagar as viagens mais caras, para comprar as melhores roupas…”, lembra Natalia.

Não é que ter todas essas coisas é errado ou é ruim. Pelo contrário: “Ter tudo isso é sim muito bom, mas não é o mais importante, senão ter um filho vai se tornar apenas mais um dos seus artigos de consumo”, ressalta.

O Ser

Seja na maternidade ou em qualquer outro ambiente, o SER é o desafio do século: “SER você mesmo”, eis o maior dos obstáculos, em especial quando se soma ao SER Mãe e SER Pai.

“O SER está intimamente ligado em fazer algo que faça sentido e que alimente o Self – considerado na Psicologia Analítica, como o SI MESMO. Por outro lado, o TER está ligado ao Ego, ou seja, a consciência e a relação com o mundo externo”, explica a psicóloga.

Os filhos

Não é preciso dizer que o TER e SER dos pais (ou das pessoas que representam essa referência materna/paterna para as crianças) têm reflexo direto no comportamento dos filhos. Em tempos de redes sociais, Natalia alerta que é preciso ir além dos posts e das fotos compartilhadas.

“O mais importante é o que fica por trás das redes sociais: o contato diário, o acolher o filho em suas dificuldades e incentivá-lo com amor em suas conquistas… Os pais precisam compreender que os filhos, de fato, são criados para o mundo, para SERem alguém no mundo, alguém que – independentemente das idealizações dos pais – serão quem já são dentro de si, conforme sua personalidade e sua forma de apreender o mundo”.

E continua: “Quando os pais apenas TÊM filhos, os aprisionam para SEREM aquilo que gostariam e deixam de amá-los apenas por SEREM quem são”.

Resignificar-se

É verdade que as mães e pais são aquilo que conseguem SER, dentro dos seus limites e de como foi sua referência materna e paterna. No entanto, é possível – e imprescindível – se reinventar e evoluir.

“Para isso, devem fazer reflexões diárias sobre o SER pai e o SER mãe. Devem buscar o autoconhecimento. E devem observar os sinais dos filhos e o que eles falam: se conseguirem prestar atenção nos filhos, compreenderão o que de fato eles precisam e não o que os pais acham que eles precisam”, orienta a especialista.

A dica dela é simples: “Curtam os seus filhos, busquem entendê-los e deem aquilo que precisam, não o que desejam. Muitas vezes, naquele momento, precisam de atenção, amor, compreensão, limites e não de sorvete, tablet ou de um brinquedo novo…”

Os desafios

De acordo com Natalia, a maternidade ou a paternidade solo, por si só, não interferem na formação de uma criança saudável. O importante, segundo ela, é que a criança possa estabelecer vínculos com pessoas que façam a referência materna/paterna, mesmo que seja uma avó, que representa o lado maternal ao lado do pai solo, ou um avô junto de uma mãe solo…

“Para o desenvolvimento saudável da criança, é necessário que as funções materna e paterna sejam feitas, independentemente do gênero dos pais ou dos laços consanguíneos dessas pessoas”, conclui.

Natália Castanha, psicóloga
Crédito: Arquivo pessoal

* Natalia Castanha é psicóloga, psicoterapeuta na abordagem Psicologia Analítica Junguiana, consultora em Recursos Humanos, palestrante, docente e madrinha deste blog. http://nataliacastanha.com.br


Crédito da foto do cabeçalho: Pixabay.