Deize Renó*
Revirando meu baú de memórias, lembrei de um ensinamento que minha avó deixou dias antes de partir…
O ano começa e as expectativas são sempre positivas. A esperança é de que este ano seja melhor do que aquele que acabou. Que venham oportunidades. Que agarremos a felicidade. Que possamos aproveitar mais o tempo, as pessoas, a vida. Que nossos sonhos se realizem. Que tenhamos saúde para correr atrás dos nossos objetivos. Que tenhamos muitos minutos de paz, de alegria, de satisfação, de conquistas…
Desde que a Maria Luiza nasceu tenho focado tudo o que penso e faço, numa pergunta que minha avó paterna me fez dias antes de nos deixar…
Minha filha tinha pouco mais de um mês. No fim de semana que se aproximava, iríamos levá-la para conhecer minha avó e sua bisa, na cidade vizinha. A velhinha, no entanto, – que estava de cama há algum tempo, 24 horas no cilindro de oxigênio, mas cheia de energia… – parecia ansiosa e não esperou até o sábado. Tratou logo de nos ligar.
A pergunta
Por telefone, ela queria saber de tudo. Com quem a Maria se parecia. Como ela era. E os seus olhos? Seu cabelo? E ao longo da conversa, uma pergunta: “Minha filha, você está feliz?”.
Quando me lembro disso, não consigo deixar de me emocionar… Na hora, eu, ainda vivendo aquela explosão de hormônios da maternidade e do primeiro filho, só soube responder que sim. E ela, mineira, de um jeito bem característico, só me disse que era isso que importava.
Falou mais algumas coisas, reclamou sobre o incômodo do cilindro… “É o tempo inteiro ouvindo esse barulho, até para dormir”. Despedimo-nos e desligamos o telefone.
O momento
Desde aquele dia, para tudo que vou planejar, que vou fazer, seja em casa, seja na vida profissional, na vida pessoal… só me vem à mente: “Você está feliz?” Se está, então segue e aproveita, “é isso que importa”.
Acho que é bem assim. Ela estava certa.
A maternidade traz um sentido a mais, mas é o momento que inspira. Viver bem o momento. Viver feliz. Aproveitar cada segundo.
Engraçado como as coisas ficam dentro da gente…
A lição
No dia em que ia visitar minha vozinha e apresentá-la à sua bisneta, ainda no caminho, recebi a notícia de que ela já havia partido. Tinha ido fazer companhia para os anjos lá do Céu.
Talvez o Céu estivesse um pouco monótono e precisasse de alguém para falar umas besteiras, dar umas gargalhadas, fazer um pastel de carne (aquele que ela fez pela última vez quando eu estava grávida…), tomar um picolé “frutilly” ou “xingar elogiando” como só ela fazia…
A verdade é que ela me deu um belo presente antes de ir. Uma lição. Deixou comigo o segredo que a moveu durante toda a vida. A alegria que a inspirou em todos os minutos que passou aqui na Terra.
Mãe de sete filhos (dois, que morreram ainda bebês), avó de dez netos e bisavó de três netas, ela esteve feliz por aqui, mesmo nas situações mais complicadas.
É claro que todo mundo estressa. Que tem horas que a gente se esquece de viver o momento… de dar valor ao que realmente importa. Mas, depois cada deslize meu, lembro-me bem das palavras dela.
O que importa
Passaram-se dois anos desde que ela se foi.
Até hoje, se minha filha quer colo, dou colo. Se quer dormir pertinho, é assim que fazemos. Se é hora do desfralde, que seja. Se é hora de desmamar, vamos em frente. Com tranquilidade, respeito e me perdoando pelos momentos de estresse (que acontecem, é verdade), vamos vencendo dia a dia.
A regra geral é: tudo passa, então aproveita.
Estamos vivendo, cada minuto.
E o pano de fundo de tudo é o questionamento daquela velhinha: “Está feliz?”
É isso que importa, seja em 2018, 2020, 2030…
E esse ensinamento não vale só para a maternidade. Vale para a vida. A pessoal. A profissional. A vida anônima nossa de cada dia.
Que sejamos felizes, como foi minha avó. Sempre.
Grande abraço e “vamo que vamo” porque o ano já começou.
* Deize Renó é mãe da Maria Luiza, jornalista, canceriana e idealizadora deste blog. A “vó Vicentina” faleceu dia 3 de outubro de 2015, aos 78 anos.
Crédito da foto do cabeçalho: Pixabay