Francini Pires*

Quem me viu grávida pela segunda vez, e não me conhecia, talvez tenha pensado que eu era uma louca ou, então, que sempre fui uma superatleta. Meu primeiro filho nasceu de parto cesária, num ambiente de bem pouca informação. E o meu segundo, ah, esse eu jurei que nasceria diferente e que eu teria sim um parto normal…

Meu primeiro

Nos nove meses de gestação do Pedro, entre 2003 e 2004, eu não fazia nenhum exercício físico. Estava com 21 anos, no último ano da faculdade, com muitos estágios e aulas. Sempre quis o parto normal, porque achava que era melhor para o bebê e para o seu desenvolvimento, mas não tinha informação nenhuma sobre parto, trabalho de parto e como isso tudo funciona.

Comecei o pré-natal com um médico que insistia em cobrar para fazer cesária com dia e hora marcados. No decorrer, acabei mudando de médico na esperança de ter, de fato, um parto normal.

Às 22 horas do dia 24 de julho de 2004, comecei a ter contrações e, quando estava numa frequência de quatro minutos resolvi ir ao hospital. Cheguei com três dedos de dilatação, às 3 horas da manhã.

Às 6 horas, com seis dedos e bem cansada, acabei seguindo a orientação do médico e decidi fazer uma cesária. Segundo ele, se eu quisesse um parto normal, deveria suportar mais oito horas, pelo menos.

Achei muito tempo. Não tinha ninguém comigo nessa hora. Ninguém pôde entrar e me acompanhar.

Fui para a cesária sozinha, achando que não aguentaria esperar mais e super preocupada.

Eu tinha muito medo de ter meu filho trocado na maternidade, principalmente porque eu estava sozinha. Só eu deveria guardá-lo na memória do momento da cirurgia até que as enfermeiras o levassem para o quarto.

Isso tudo foi bastante doloroso. Na sala de parto, às 7h43 do dia 25, vi meu filho de longe, de uma distância maior do que o meu braço esticado poderia alcançar, e logo o levaram para o berçário. Fiquei no centro cirúrgico até o efeito da anestesia passar e depois fui para o quarto. Só peguei meu Pedro no colo às 21 horas.

O meu menino nasceu com 3,434 kg e 48 cm no dia 25 de julho de 2004.

Naquele ano, alguns hospitais brasileiros humanizavam o parto, mas não era regra (no Estado de São Paulo, só tornou-se lei em 2015, veja aqui; em âmbito federal, novas diretrizes para o parto humanizado foram oficializadas apenas agora, em 2017). Por isso, meu filho não pôde ficar comigo no quarto.

Também não existia nenhuma lei que me garantisse um acompanhante (essa foi criada só em 2005, confira aqui).

Naquele momento, achei tudo isso normal e nem questionei se deveria ou não ser assim mesmo… Por muitos anos, não percebi quantos erros e descasos aconteceram nessa época.

Meu segundo

Depois de dez anos, estava eu grávida de novo. Assim que descobri, comecei a ler muitas coisas. Percebi que tinha toda a legislação a meu favor e, mais, que eu poderia sim ter um parto normal após uma cesária. Insisti nessa ideia.

Minha vida tinha mudado radicalmente em dez anos. Passei a me dedicar muito mais à prática de exercícios físicos. Além de instrutora de Pilates, também praticava e competia em diversas modalidades esportivas (e assim continuo até hoje).

Durante a gravidez, eu nadava, corria, pedalava, fazia musculação e dava aula de Pilates.

Minha médica só me proibiu de pedalar. Disse que era por conta do movimento que a bacia faz durante o exercício.

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Continuei fazendo o restante, principalmente, a natação. Tudo com menos intensidade do que antes, mas nada tão leve como se imagina.

Nadei a gestação inteira, corri até o 7º mês por conta do peso dos seios e da barriga, e dei aula de Pilates até a 38º semana.

Na rua, as pessoas não me olhavam com bons olhos. Na internet, me criticavam.

Além de ter meu filho perto de mim depois do parto, eu queria que tudo fosse o mais humanizado possível. Cogitei até em ter meu bebê em casa.

Meu marido, porém, me convenceu a ir para a maternidade e uma médica amiga sugeriu que eu chegasse lá com sete dedos de dilatação, para que ninguém induzisse a uma cesária. Depois de 20 horas de contrações, fui para o hospital achando que já deveria estar com uma dilatação considerável.

O Arthur ficou na barriga 39 semanas e 5 dias, nasceu com 3,766 kg, 51 cm e de parto normal, às 9h58 do dia 5 de julho de 2015. Em dezembro do mesmo ano, realizei uma prova de natação no mar, a Fuga das Ilhas.

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Ele ficou no meu colo quando nasceu e meu marido, do meu lado o tempo todo.

Apesar disso, confesso… Não foi tudo lindo e maravilhoso. Não mesmo. Eu consegui ter um parto normal, é verdade.

Por outro lado, parece mentira, mas a impressão que fica é de que os médicos não estão preparados para fazerem partos normais ou naturais, por isso, relutam tanto (confira as diferenças entre parto normal e natural, segundo informações da Pastoral da Criança).

Benefícios da prática esportiva

Por experiência própria, digo que o exercício físico é fundamental no pré e no pós parto. Só para enumerar alguns benefícios que, a propósito, senti na pele: ajuda a controlar o peso; a ansiedade; as dores que podem surgir; diminui o risco de pré-eclâmpsia e de diabetes gestacional; reduz o desconforto intestinal; ajuda no sono, na flexibilidade e na preparação para o parto normal. Também ajuda no pós-parto e na valorização da autoestima.

Como fisioterapeuta, posso afirmar que o exercício físico durante a gestação não oferece risco, salvo se a mãe tiver algum problema, como descolamento de placenta, hipertensão, sangramento ou qualquer outro agravante, conforme orientação do obstetra.

Os médicos, normalmente, só autorizam exercícios mais leves após o primeiro trimestre. Se a mãe já fazia algo antes de engravidar, como yoga, Pilates, caminhada, hidroginástica, em geral, poderá continuar fazendo, mas num ritmo menor.

O importante é se conhecer, conhecer os limites do seu corpo e parar o exercício quando achar que deve, ou quando algo diferente estiver acontecendo. Ao contrário do que se pensa por aí, o período de gestação não é um período de confinamento.

Por isso que quando me perguntam: “Exercício físico na gravidez, pode?”. Não me canso de afirmar: Não só pode, como deve!

“E parto normal ou natural, pode ter depois de uma cesária?”. O que eu digo é: Leia, informe-se, questione seu médico, cuide da sua saúde, faça exercícios físicos, exija seus direitos e, se tudo estiver bem, insista sim num parto natural!

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* Francini Pires, mãe do Pedro e do Arthur. É fisioterapeuta, instrutora de Pilates e atleta.

Facebook: @pilatesfrancinipires


Edição: Deize Renó

Crédito das fotos: Arquivo pessoal