Carolina Camargo*

Sempre quis ter filhos, sempre me imaginei sendo mãe de gêmeos… e, mais do que tudo, sempre quis ter meninas. É verdade.

Quando resolvi engravidar e fui ao médico, ele me disse que não havia chances de eu ter uma gravidez gemelar. No entanto, menos de um mês depois dessa consulta, lá estava eu, grávida e de gêmeas. Sentia uma felicidade inexplicável. Acho que, de algum modo, sempre soube que seria assim.

200661_180664048646483_3562466_n
Exame de ultrassom de Valentina e Manuela. Crédito: Arquivo pessoal.

Tudo correu bem na gestação até o nascimento de minhas princesas, sem nenhuma complicação. Tive apenas um enjôo absurdo e passei os nove meses sem conseguir comer quase nada, só frutas, água de coco e sucos.

Minhas meninas nasceram saudáveis, com 37 semanas, de parto cesárea. Valentina, com 44 cm e 2.070 kg, e Manuela, dois minutos depois, com 46 cm e 2.220 kg.

Assim como toda mãe de primeira viagem, e ainda por cima de gêmeas, ouvi muitas teorias durante a gravidez – quase nenhuma positiva. Diziam que eu nunca mais dormiria na minha vida; que era impossível cuidar sozinha de bebês gêmeas e que eu precisaria de muita ajuda. Todos pareciam me olhar com “pena”, com dó.

Foi aí que tomei uma decisão. Jurei que aprenderia a cuidar sozinha das minhas bebês.

Saímos da maternidade e fomos para a nossa casa. Não quis ficar na casa da minha mãe e nem quis ninguém em casa me ajudando. Eu precisava provar para mim mesma que era possível. Tive ajudas pontuais sim, mas posso dizer que, em 90 % do tempo, era só eu, meu marido e as meninas.

Tive muito medo, mas não era um medo real, era um medo do desconhecido, de acontecer alguma coisa e eu não saber o que fazer.

Mãe de gêmeas - Carol Camargo
Poucos dias depois de deixar a maternidade. Arquivo pessoal.

Hoje, analisando tudo isso, vejo que nós, mães, sentimos medo e incapacidade nessa fase, porque somos muito cobradas. É como se precisássemos ter poderes sobrenaturais para sermos mães. Desde o passado, por exemplo, sempre ouvimos dizer que toda mãe tem seu “instinto materno” e que sabe o que o filho precisa a qualquer momento e onde quer que ele esteja. Comigo não foi bem assim. Por isso, prefiro acreditar que não é instinto o que existe, e sim convivência.

Antes de engravidar, eu era guia de turismo. Trabalhei com isso até um mês antes delas nascerem. Voltei ao trabalho pouco depois de terem completado quatro meses.

Além de querer provar para mim que eu daria conta sozinha, sem poderes sobrenaturais ou teorias mirabolantes, a maternidade me trouxe uma vontade de aprender a fazer “coisas de mãe” – a minha, por sinal, fazia muitas coisas e eu adorava saber que podia contar com ela em todas as minhas invenções; queria que minhas filhas sentissem isso, como eu sentia.

O aniversário de um ano das meninas foi o grande marco da minha vida profissional, um delimitador.

Logo, estabeleci mais uma prova para mim… Iria organizar e montar sozinha o aniversário de um ano delas. Não queria encomendar nada, nem fazer em buffet infantil, nem mesmo alugar os enfeites.

Comecei a testar receitas de bolos e doces, visitar muitos blogs e, no final, consegui fazer tudo do jeito que eu queria. Costurei vários enfeites de feltro, fiz quase todos os doces (muitas pessoas da família me ajudaram), além dos bolos, lembrancinhas e todo o restante. Desde então, as pessoas começaram a me perguntar se eu aceitava encomendas e, meio que sem querer, ganhei outra profissão.

Comecei a fazer cursos de confeitaria, larguei de vez o turismo e, além de uma mãe, depois do nascimento das meninas, nasceu também a Carol Confeiteira. Isso era incrível, porque estava amando o novo trabalho e, o melhor, poderia fazer isso sem sair de casa. Estaria com elas, acompanhando o dia a dia de cada uma e todas as suas descobertas.

Aprendi a ser mãe junto com as meninas. Com o tempo, soube reconhecer o choro, os olhares e os gestos. Mas, nada de instinto. Tenho consciência de que, se eu trabalhasse fora de casa e meu marido ficasse o tempo todo com elas, era ele quem saberia todos esses detalhes e não eu.

A rotina foi a única maneira que encontrei para não enlouquecer. Ensinei minhas filhas a dormirem, acordarem e se alimentarem juntas. Organizei meu cotidiano e isso me ajudou a ter tempo para fazer outras coisas. Consegui provar que era possível dar conta, mesmo quando estava tão cansada que não conseguia nem pensar direito.

Posso dizer que meu marido sempre dividiu todas as tarefas comigo, desde o primeiro dia das meninas. Revezamos nas madrugadas e em todos os cuidados com elas, no banho, na alimentação, nas trocas de fraldas. Isso foi fundamental, tanto para o convívio a dois como para a criação de laços com as filhas.

Não acredito em marido que ajuda e, sim, naquele que reconhece seu papel e não transfere o trabalho de cuidar dos filhos e da casa só para a esposa. Estamos juntos e tudo é sempre dividido com igualdade.

Ao contrário do que me diziam antes da gravidez, nosso relacionamento só melhorou com a chegada das nossas filhas, porque pude conhecer outro homem, um pai responsável, que sempre nos colocou em primeiro lugar. Com isso, veio mais orgulho e respeito. Não era só mais o meu marido que estava ali e sim alguém que eu admirava. Tornamo-nos mais cúmplices um do outro e, a cada dia, sinto que ficamos mais próximos.

Já se passaram quase seis anos, desde que o nascimento da Valentina e da Manuela. Desde então, só aprendo. É gratificante acompanhar o desenvolvimento de cada uma e ver que aqueles bebês tão pequenos estão se tornando meninas adoráveis e cheias de personalidade.

Não é fácil ser mãe, mulher, dona de casa e ainda trabalhar, mas a maternidade me fez descobrir que sou capaz de fazer qualquer coisa. Não porque é instintivo, mas porque estou disposta a aprender diariamente. Tem dias em que acerto, dias em que erro. E, do mesmo modo que elas estão aprendendo a serem filhas, a entenderem o mundo, estou aprendendo a ser mãe e a dar conta de todas as coisas.

Elas me ensinaram a ser o que sou hoje em dia. Descobri uma Carol mais forte, com mais opinião e me fortaleci para poder ensiná-las a serem fortes, a questionarem e a não aceitarem o que não querem.

Antes, não me importava muito com várias questões. Depois que elas chegaram, senti uma necessidade absurda de empoderá-las, de ensiná-las a questionar sempre, sem deixar a inocência ir embora.

Estamos caminhando, entre erros e acertos. Sinto um orgulho absurdo de ver o que estão se tornando, de ver tanta doçura e, ao mesmo tempo, tanta força. Tenho tranquilidade para afirmar que elas sabem falar “não” e sabem muito bem o que querem.

Estamos crescendo juntas e eu me redescobrindo sempre, a cada dia.

carol camargo - mãe de gêmeas
Arquivo pessoal

* Carolina Bardazzi Napolitano Camargo, virginiana, confeiteira, mãe da Valentina e da Manuela.


Crédito da imagem em destaque: Pixabay

Edição: Deize Renó