Natalia Castanha*

O Dia das Crianças está aí. Os apelos publicitários aumentam muito nessa época do ano, é verdade, mas sem olhar para os exageros, é preciso dizer: os brinquedos são ferramentas importantes no processo de desenvolvimento infantil e eles, definitivamente, não têm gênero. Não existe um brinquedo de menina ou um brinquedo de menino. Todo e qualquer brinquedo atua como um mecanismo que possibilita à criança explorar o seu mundo.

O brincar estimula o desenvolvimento cognitivo e motor, além de ser um impulsionador da criatividade e da sociabilização, contribuindo e muito para que as crianças elaborem e organizem suas questões emocionais.

Por meio do brincar, a ansiedade e a agressividade da criança são direcionadas e elaboradas.

Existe muito preconceito acerca dos meninos brincarem com bonecas, como se isso fosse influenciar na sexualidade ou na identidade de gênero. Esses são pensamentos preconceituosos e errôneos, afinal o brinquedo ou o brincar não definem se a criança é menina ou menino.

Pelo contrário, ao brincar de boneca, por exemplo, ambos – o menino e a menina – podem exercitar o ato de cuidar, de dar amor e colo. Essas, inclusive, são ações que não devem partir só da menina, da mãe, da mulher, mas também do menino, do pai, do homem. A forma como encaramos isso reflete na maneira como eles poderão vivenciar isso no futuro.

Há quem também não olhe com bons olhos para as meninas que gostam, por exemplo, do Batman e pedem aos pais um Batmóvel. Qual o problema? Nenhum.

Olhando sob a perspectiva da psicologia, a figura do herói morcego poderá auxiliar as crianças no processo de enfrentamento do mundo e dos problemas. Por meio dele, da força interior do personagem, ou mesmo do seu veículo adaptado e estiloso, a menina também poderá perceber os prazeres de dirigir, de ter autonomia e independência, assim como o menino.

Por isso, na hora de escolher o brinquedo para presentear, é necessário desconstruir os antigos modelos que foram construídos ao longo do tempo, cheios de moralismo e que, hoje, percebemos, o quanto são obsoletos.

Hoje, a mulher continua vaidosa, cuida dos cabelos, faz a maquiagem, cozinha, cuida da casa, mas também trabalha fora e, muitas vezes, em profissões antes dominadas por homens. É o caso das mulheres que atuam na Polícia, na Medicina, no Direito. Essa mulher também dirige seus carros e, muitas vezes, trabalha como motorista, caminhoneira, taxista.

Os homens, por outro lado, no mundo atual, demonstram-se vaidosos, cuidam-se, cuidam de suas casas, de suas famílias, de seus filhos, cozinham, trabalham e, cada vez mais, ocupam funções antes dominadas pelas mulheres. São chefs de cozinha, cabelereiros, decoradores, organizadores de eventos. Nem por isso, eles mudaram suas opções sexuais.

Aos pais, a dica é: respeitem as escolhas dos seus filhos.

Quanto aos brinquedos, percebam-os como ferramentas auxiliares no processo de desenvolvimento e compreendam que o preconceito só existe na cabeça do adulto.

A criança precisa explorar o máximo possível o seu “mini mundo”, para evoluir e se desenvolver sem se apegar demais a modelos preconcebidos. Os homens, para que não se tornem pessoas que não sabem cuidar de si, dos filhos e sequer da própria casa, justificando isso como sendo “para as mulheres”; ou mulheres que não se cuidam, não dirigem carros, nem trabalham fora, porque isso é “para os homens”.

Um Dia das Crianças feliz e livre a todos os nossos pequenos!

Que durante cada dia do ano, as crianças sejam respeitadas e possam desfrutar da leveza da infância, sem imagens estereotipadas ou preconceitos incabíveis.

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* Natalia Castanha é psicóloga, psicoterapeuta na abordagem Psicologia Analítica Junguiana, consultora em Recursos Humanos, palestrante e docente.

Crédito da foto do cabeçalho: Pixabay