Pediatra Henrique Naufel e órgãos de Saúde explicam o que é a doença e dão dicas valiosas para a prevenção

Pais e mães, especialmente de primeira viagem, sentem um calafrio só de ouvir falar em meningite. Nos últimos dias, relatos e depoimentos de mães e pais que viveram isso na pele se espalharam pelas redes sociais. Na última semana, um caso também foi registrado em Mogi das Cruzes (SP). Para quem acompanha assuntos ligados à maternidade e às crianças, com tanto se falando por aí, não é difícil se assustar. Mas, calma lá. Além da vacinação, é importante garantir a saúde diária dos nossos pequenos, cuidar da alimentação, manter uma boa imunidade, seguir a recomendação dos especialistas e nada de desespero.

Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 70% dos casos de meningite no Brasil se devem ao sorogrupo C, cuja vacina está disponível gratuitamente na rede pública de saúde. O restante corresponde a outros sorogrupos, como A, B, W e Y, para os quais só existem vacinas disponíveis em clínicas particulares.  No caso da B, por exemplo, o valor de cada dose pode chegar a R$ 600.

Existem ainda bactérias, como as pneumococos e a haemophilus influenza tipo b, que causam outras doenças e que podem resultar em meningite. Nesses casos, as vacinas também estão disponíveis na rede pública.

No ano passado, foram mais de 1.000 casos de meningite registrados no País e mais de 200 mortes no ano. O principal alvo são as crianças com até quatro anos.

A seguir, o pediatra Henrique George Naufel, Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, Doutor em Biotecnologia pela Universidade de Mogi das Cruzes e diretor técnico da Clínica Infantil São Nicolau, explica um pouco sobre a meningite, seus tipos, como prevenir e quais as diferenças entre cada uma das vacinas disponíveis, seja na rede pública ou na particular.

Na sequência, as orientações e medidas que estão sendo tomadas pelo Ministério da Saúde para reduzir as doenças no País e pela Secretaria de Saúde de Mogi das Cruzes (SP), após um recente caso de meningite bacteriana na cidade.

Definição

“A meningite é a inflamação das meninges, membranas que recobrem o que chamamos Sistema Nervoso Central, que envolve o cérebro, a medula espinal e os nervos que dela emergem. São três camadas, semelhantes a um papel celofane, bem fininhos”, explica o pediatra Henrique Naufel.

Segundo o médico, as letras A, B, C, W e Y referem-se a tipos de meningococos, principais bactérias que causam a doença. “Cada um deles é mais prevalente em uma região do mundo. No Brasil, os mais prevalentes são os do tipo C e B”.

Além disso, há outras bactérias muito comuns cuja ação pode resultar em meningite: “As crianças, frequentemente, são acometidas por infecções de garganta, ouvido e pulmão. As bactérias que causam essas doenças são as mesmas que podem causar a invasão do sistema nervoso levando à meningite, como é o caso dos pneumococos e haemophilus influenza tipo b.

As meningites causadas por bactérias são as mais graves. Há ainda aquelas que são transmitidas por vírus, em que a chance de recuperação sem sequelas é bem maior: “Vírus são diferentes de bactérias na sua composição. No caso dos que podem causar meningites, os vírus geralmente causam doenças menos agressivas e não são necessários medicamentos específicos. Já as bactérias são sensíveis aos antibióticos, que precisam ser administrados em doses elevadas nos casos das meningites causadas por elas”, esclarece o pediatra.

Sintomas

De acordo com ele, nos bebês, os sintomas mais comuns são febre alta e irritabilidade. Além disso, a moleira (fontanela) fica abaulada (curva) e pode ou não vir acompanhada de vômitos. Nas crianças maiores o quadro é bem parecido com o de outras infecções: “Febre alta (que não cede ao antitérmico), dor de cabeça, rigidez de nuca e vômitos (que não são precedidos por náusea)”.

 

Transmissão

Em geral, a doença é transmitida por gotículas de saliva, os perdigotos, que podem ser transmitidas de pessoa para pessoa ou de uma pessoa a um objeto e deste objeto para outra pessoa. Lembrando que: “O indivíduo pode ser portador de um vírus ou bactéria sem manifestar a doença, mas pode transmiti-la a outras pessoas”, alerta o médico.

Prevenção

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Naufel: Para prevenir, vacine-se, evite aglomerações e contato com doentes. Crédito: Arquivo pessoal.

O pediatra explica que as orientações para prevenir a meningite são as mesmas, por exemplo, no caso da gripe: “Evitar contato com pessoas doentes, evitar aglomerações (muita gente respirando no mesmo lugar em locais não ventilados), e, principalmente, buscar a vacinação”.

Crianças vacinadas e o risco da doença

“Existem peculiaridades de cada criança (ou adultos) que podem fazer com que mesmo vacinadas, elas não produzam anticorpos suficientes para a total proteção. No entanto, um equívoco frequente é o de achar que uma criança que recebeu a vacina contra o meningococo C estaria protegida contra os outros meningococos (A, B, W e Y). O mesmo serve para as outras bactérias: pneumococos e haemophilus influenza tipo b. Receber a vacina contra um não imuniza contra os outros”, esclarece o especialista.

 

Orientação aos pais

“Prevenir é melhor que remediar, sempre. Mantenham as crianças bem alimentadas; não as levem à escola quando estiverem doentes; procurem sempre consultar um pediatra de sua confiança; e vacinem seus filhos. Se puderem ampliar os esquemas nas clínicas particulares, estarão mais protegidos ainda”, orienta Naufel.

 

* Para mais informações sobre vacinas indicadas para cada faixa etária, doenças que previnem, entre outras dúvidas, acesse o site Família SBIm. O conteúdo também pode ser baixado em forma de e-book. O calendário brasileiro de vacinas, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações, para crianças de 0 até os 9 anos, também está disponível, de forma resumida, aqui.

Crédito da foto superior: Pixabay