Pesquisa sobre as mães brasileiras revela um cenário bem mais real, exaustivo e difícil, quando o assunto é maternidade, carreira e filhos

 

Ser mãe é um aprendizado diário de amor, paciência e equilíbrio. É recompensador, mas não é fácil. Aquele estereótipo de mãe perfeita, tão comum nas propagandas veiculadas na mídia, já não reproduz mais a realidade das mães brasileiras.

Uma pesquisa, realizada no ano passado pelo Instituto Qualibest e pelo site Mulheres Incríveis, revela que grande parte das mães brasileiras está cansada. Além disso, as mães confessam que é cada vez mais difícil dar conta da carreira, do relacionamento e dos filhos. Se pudessem fazer um pedido, gostariam de ter mais paciência, mais dinheiro para os filhos e mais tempo para si mesmas. Apesar disso, a maioria concorda que “o amor dos filhos compensa quase tudo” e diz que “não voltaria atrás se pudesse escolher não ser mãe”.

Segundo o levantamento, quase sete em cada dez mulheres consideram a vida de mãe hoje “difícil e exaustiva”. Outro ponto importante da pesquisa foi a maneira como as mulheres falam de suas culpas e medos: “Essa franqueza revela que estão se permitindo um olhar menos idealizado sobre sua relação com a maternidade, e por isso afirmam não se sentir representadas pela imagem de mãe perfeita, por vezes divulgada na mídia”, avaliou Marta Capacla, gerente de pesquisa qualitativa do Instituto Qualibest e mãe de duas meninas.

A grande vilã dos tempos atuais é a culpa: 55% das mães admitem que se sentem culpadas por não terem condições financeiras de oferecer o que elas acreditam que seus filhos merecem, como uma escola melhor, roupas novas, itens eletrônicos e viagens. Cerca de 36% também se sentem culpadas quando perdem a paciência. Outras se sentem culpadas por não ter disposição ou tempo para brincar e ajudar os filhos nas lições de casa; ou por precisar deixá-los muitas horas vendo TV ou jogando videogame; ou ainda por não conseguir impor limites, não amamentar ou não alimentar as crianças de forma correta.

Quando perguntadas sobre qual imagem melhor define a mãe brasileira, 51% das entrevistadas escolheram a opção “A mãe que ama seus filhos, mas também ama seu trabalho, seu parceiro e tem outros interesses na vida”. Apenas 18% elegeram a frase “A mãe que tem seus filhos como prioridade”.

A pesquisa entrevistou mais de 1,3 mil mães de todas as classes sociais, faixas etárias e regiões do país, por meio de questionário online. 81% delas disseram ter de um a dois filhos ou filhas. Foram privilegiadas as mães de 25 a 44 anos (mais de 60% do total de entrevistadas), com filhos bebês, crianças e adolescentes.

 

Menos tarefas domésticas e mais tempo com os filhos

Como ajudar uma mãe exausta? Para 70% das entrevistadas, a questão é financeira. Para 49%, é ter mais paciência e energia para ficar com as crianças. Ter pessoas disponíveis para ajudar nas tarefas domésticas foi mencionado por 40% das entrevistadas – o que revela o antigo modelo brasileiro de centralizar as tarefas de casa nas mãos das mulheres. Apenas 12% delas desejaria ter pessoas disponíveis para ajudá-las a cuidar dos filhos.

A pesquisadora do Qualibest acredita que, além de diminuir a carga doméstica sobre as mães, é preciso pensar na configuração dos espaços de trabalho, para que tanto mães como pais tenham mais tempo para ficar com os filhos. Ela cita ainda a necessidade de licenças maternidade estendidas ou outras formas de proteção para a mãe que precisa trabalhar.

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Crédito: Instituto Qualibest

 

“Talvez a melhor reflexão a se fazer é se perguntar se não estamos individualizando demais a responsabilidade pelo cuidado com as crianças. Claro que a relação mãe e filho é muito importante na formação do indivíduo. Mas se ‘virássemos a chave’ e nos tornássemos uma sociedade realmente solidária, cuidadora – cuidando uns dos outros – e os “filhos das mães” fossem filhos de todos, quão grande não seria a transformação do trabalho, da cidade, e das pessoas?”, conclui Marta Capacla, gerente de pesquisa qualitativa do Instituto Qualibest.

 

“A melhor mãe é aquela que é possível”

Para quem acompanha de perto muitas mulheres e mães, antes e após a gestação, a pesquisa é “libertadora”:

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Crédito: Arquivo pessoal

 

“Acredito que a maternidade é realmente muito prazerosa, apesar de exaustiva. O ideal de perfeição, infelizmente, nunca será alcançado. Precisamos saber disso. A melhor mãe é aquela que é possível. Precisamos exercitar o amor e a compreensão e evitar autojulgamentos tão rígidos”, avalia a ginecologista e obstetra Patrícia Guerra.

 

Segundo ela, que é mãe do Pedro, 6 anos, e da Letícia, 3 anos, algumas mulheres sentem esse grande peso já durante a gestação, mas o pós-parto é o período mais crítico, em especial por conta do desafio da amamentação. Além disso, ela cita como outros gatilhos, o retorno ao trabalho, o retorno à vida de casal e o nascimento do segundo filho.

“A sororidade, palavra que significa  amizade entre as mulheres, que vem de sorella, irmã, deve ser falada aos quatro ventos. Estamos todas juntas, temos as mesmas angústias e dores, independentemente de classe social, idade, profissão e número de filhos”, conclui.

 

Na terapia, a busca pela Mulher Maravilha

Mães sobrecarregadas com atividades e culpas, e uma autocrítica aguçada que termina em frustração. Essa é, muitas vezes, a realidade encontrada nos consultórios psicológicos. Para a psicóloga Natália Castanha, autocuidado e autoconhecimento são fundamentais: “Apesar da Pesquisa A Nova Mãe Brasileira deixar uma sensação de despertar para a Mãe Humana, a Mulher Maravilha ainda é cultuada”.

Natália Castanha, psicóloga
Crédito: Arquivo pessoal

“Quando engravidam, as mães precisam gestar dentro de si não só um bebê, mas também esse novo papel, o papel de mãe. É importante ter em mente que ela não precisa dar conta, precisa é entender até onde consegue alcançar”, revela  a psicóloga Natália Castanha.

 

 

 

 

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Crédito da foto em destaque: Pixabay