Sempre quis ser mãe e não me importava como isso poderia acontecer.
Quando conheci meu marido, uma das primeiras coisas que ele me contou foi que talvez nunca conseguisse ser “pai”. Ele vinha de um outro casamento, já havia enfrentado inúmeras tentativas e passado por vários tratamentos para fertilização.
A decisão sobre ter um filho era certa para mim e para ele, mas deixei que ele escolhesse entre tratamento ou adoção, para não forçar a barra… Eu só dizia que seria mãe, não avó… então, ele sabia que precisaríamos resolver isso logo… rsrsrsrs
A decisão
Foi assim que a maternidade chegou para mim. Optamos pela adoção, até para evitar desgastes e sofrimentos.
A verdade é que nada é tão simples assim. Todo processo é amedrontador. E mesmo a adoção nos assustava um pouco…
Nossa caminhada começou no Fórum, quando fomos buscar a relação dos documentos para entrar na fila…
Uma lista gigante, uma burocracia assustadora.
Era tanta coisa, que acabamos deixando para depois… A lista ficou perdida em algum lugar e a esquecemos por aí.
O pré-natal
Bom ou mal, tudo para nós sempre foi no susto.
Um dia, estávamos tranquilos, passeando na praia e uma prima do Thiago (meu marido) ligou. Havia uma vizinha dela oferecendo um bebê. Não tinha condições de criá-lo.
Naquela hora começou nosso sofrimento…
Mesmo sem conhecê-lo, só tínhamos uma certeza: não poderíamos deixar aquela criança sozinha.
O parto
Foi como engravidar da noite para o dia e ir direto para a sala de cirurgia.
Conseguimos autorização de uma assistente social para que o bebê ficasse conosco até a decisão do juiz.
Ainda não tínhamos levado os documentos necessários ao Fórum, por isso, havia um grande risco do nosso pequeno ir para alguém que estivesse na fila.
O nascimento
Quando Gui chegou, tinha quase quatro meses, mas com tamanho e peso de recém-nascido.
Em três dias, vivemos o que normalmente os casais vivem em nove meses: montar quarto, comprar roupas e aprender a cuidar de um bebezinho.
Gui era pequeno, mas muito forte.
Nasceu de 29 semanas, com várias complicações, provavelmente pela falta de pré-natal. Tinha uma irmã gêmea, que continuou no hospital até o 6° mês, mas não sobreviveu.
Com a morte da irmã, o hospital mandou uma assistente social atrás da mãe para saber como estava o menino. Foi assim que chegou até nós… na ocasião, Gui estava com sete meses.
O medo
Foi um desespero total, pois num processo normal de adoção, o vínculo só é válido depois de três anos de convivência.
Nessas condições, o juiz poderia entregar o bebê para algum casal que tivesse o perfil e fosse habilitado.
Conseguimos que isso não acontecesse, mas tivemos de correr com nossa documentação.
Passamos com a assistente social e vários psicólogos. Fomos habilitados e começamos nossa saga.
O processo
A burocracia é grande, não dá para negar. Mas é necessária.
É preciso ter certeza de que a família está preparada para receber a criança.
Como não estávamos na fila para adoção, nosso processo se estendeu bastante.
No total, foram quase cinco anos até a decisão do juiz e mais seis meses até termos a certidão de nascimento com os nossos nomes.
Um sobrenome nunca teve um significado tão profundo para nós.
Estamos em novembro de 2018, fazem poucos dias que recebemos a certidão e somente agora conseguimos tirar os documentos do nosso Gui.
Desafios
No início, não dá para negar, tivemos receio em encontrar algum tipo de preconceito na família…
Mas o Gui é super carinhoso e seu jeitinho tem o poder de detonar qualquer pensamento ruim.
Além disso, desde bebê, conversamos muito com ele.
Por enquanto, lidamos com alguns questionamentos do Gui, como: por que somos “bege” e ele “marrom”?…).
Em tudo o que fazemos, mostramos que a forma como ele chegou até nós não muda em nada o amor que sentimos por ele.
A palavra
Dia desses, enquanto eu pensava em como iria contar a nossa história aqui no blog, ele nos pegou de surpresa com a pergunta: “Mamãe, vocês me adotaram né?!?! O que é adotar?…”
Na hora, a perna bambeou…
Aos poucos, vamos avançando nessa questão e começamos contar um pouco da história dele.
Um irmão ou irmã
Temos a intenção de adotar mais uma criança. Para isso, estamos nos preparando psicologicamente para enfrentar todo o processo de novo.
O objetivo é ter um companheiro para ele. Alguém com a idade próxima, para que sejam companheiros.
Minha melhor escolha
Não importa a forma como meu filho chegou até mim, a adoção foi a minha melhor decisão.
Meu filho foi o melhor presente que eu poderia ter “ganho”. Não tem como explicar a sensação de dar e receber amor, de forma tão pura, verdadeira e descompromissada.
Não consigo me imaginar sem o meu pretinho… Tudo o que fazemos é para ele e por ele. É nosso companheiro para tudo.
Tentamos retribuir esse amor, visitando abrigos e amenizando a dor das crianças – que ainda não tiveram a mesma sorte que o Gui em encontrar uma família.
Não é simples, mas é muito mais simples do que a gente pensa. As únicas coisas que as crianças precisam são amor e atenção. Só.
E o Gui está aí para nos lembrar a cada instante que o amor supera todas as barreiras. As nossas e aquelas que a vida colocou no caminho dessas crianças.
* Maria Renata de O. P. Quadrado, arquiteta e mamãe do Guilherme Quadrado. Na foto, também o paizão Thiago G. Quadrado.
Veja aqui também o depoimento de outra mãe sobre a adoção.
Mais informações: