Gislene Aparecida do Prado Nogaroto*
Aceita e confia.
Para este ano novo e para todos os outros, meu desejo é que você tenha fé. E que, mesmo diante das piores dificuldades e das mais difíceis, acredite e confie no poder de Deus. Lute e batalhe pelos seus sonhos, busque informação, oriente-se, cerque-se de pessoas que te amam, faça tudo o que tem que ser feito, mas – acima de tudo – nunca deixe de acreditar.
Aos 19 anos, tive meu primeiro filho. Um menino. O Davi. Aos 33 anos, engravidei pela segunda vez e é aí que começa uma das maiores batalhas que já vivi.
A saga
Logo no primeiro mês de gestação, descobri que o saco gestacional estava descolado e que havia risco de aborto. No segundo mês, meu organismo tratou de corrigir esse problema e, antes que eu pudesse comemorar, veio a segunda notícia. Um novo ultrassom apontou placenta de inserção baixa, também chamada de placenta prévia.
A recomendação da obstetra foi repouso absoluto e, para qualquer sangramento, ir direto ao hospital, porque poderia haver um parto prematuro.
Quando soube da notícia, só pude ficar triste. A gravidez vinha num momento muito especial da minha vida. Ser mãe de novo, após 14 anos da primeira gestação, era um sonho, que eu estava vivendo intensamente.
Aquele diagnóstico me desapontou sim, mas sabia que não era hora de desanimar. Como eu estava no início da gestação, a médica também disse que havia chances desse cenário se reverter. Eu precisava seguir as orientações e permanecer confiante de que no mês seguinte a placenta fosse para a posição correta.
Retomei minhas orações e novenas, até que chegou o dia de um novo ultrassom.
Algo me dizia que as coisas não estavam tão bem.
Já no exame, a médica disse que minha placenta estava recobrindo totalmente o orifício interno do colo do útero.
Na véspera do Natal de 2014, com o ultrassom debaixo do braço, lá fui eu para uma consulta com minha obstetra.
Essa não foi uma experiência muito boa.
Após analisar o exame, a profissional foi categórica em afirmar que minha gestação era de risco e que eu precisava ter um convênio médico, porque a qualquer momento poderia ter de antecipar o meu parto.
Até então, os planos do meu marido e meu era fazermos tudo de forma particular. Não tínhamos convênio.
Mas ela insistia que não seria possível, porque eu e o bebê poderíamos precisar de uma UTI; que eu correria risco de vida no parto; e que deveria me acostumar com a ideia de ter uma cesariana, já que um parto normal não seria nem cogitado.
Eu, sozinha na consulta, fiquei totalmente sem chão. Entrei no banheiro da clínica e chorei como nunca.
Eu só sabia de uma coisa: não faria mais meu pré-natal naquele lugar. Mesmo que a médica estivesse certa quanto ao diagnóstico, eu não merecia ser tratada assim e, mais, eu sabia que não era o dinheiro ou um plano de saúde que resolveriam meu problema.
A confiança
Nem sei como passei o Natal daquele ano.
O que me confortava é que estava tudo bem com minha menina. Sim, o ultrassom também dizia que eu teria uma princesa!
Procurei outros médicos, mas o diagnóstico era sempre o mesmo. Gravidez de alto-risco; risco iminente de hemorragia; risco de parto prematuro.
Depois de algumas tentativas na rede particular, optamos por tentar a rede pública na cidade vizinha de Jacareí (SP) – porque em Salesópolis, onde moro, há pré-natal, mas não maternidade. Graças à ajuda de alguns bons amigos, consegui vaga para ser atendida no hospital da cidade e lá retomar o acompanhamento médico da minha gravidez.
A fé
Prometi que o nome de minha filha seria uma homenagem à Maria, mãe de Deus. Por isso, Maria Clara.
Os dias foram passando. Logo, eu já estava no 8º mês e não havia tido nenhum sangramento.
Para quem via de fora, estava tudo bem e eu evitava falar sobre isso com as pessoas.
Pensava muito em minha filha, por isso, policiava meus pensamentos, para que nenhum sentimento ruim invadisse meu ventre e prejudicasse minha pequena.
A verdade é que nem eu, nem os médicos, sabíamos se eu chegaria aos nove meses e se terminaríamos bem.
Os ultrassons mostravam que o risco só aumentava com o passar do tempo, porque a placenta já estava muito próxima à bexiga.
A família
Além do bebê que eu carregava, minha preocupação também era com minha família. Meu filho, que entrava na adolescência. Meu marido.
O próprio diagnóstico médico era de que eu poderia não sobreviver e isso, por muitos momentos, me afligia.
Conversei com meu marido e deixei claro, que se fosse para escolher entre a minha vida e a da minha filha, que ele escolhesse a dela.
Pedi para que cuidasse dos nossos dois filhos e zelasse pela felicidade de cada um.
A reta final
Minha cesária foi marcada para o dia 25 de maio de 2015. Meu parto seria de alto risco. Vários especialistas precisariam acompanhar. Talvez outras cirurgias devessem ser feitas, possivelmente na bexiga ou no útero.
Faltava pouco. Apesar de todo o temor e a ansiedade, no fundo, eu estava feliz por ter chegado até ali e confiante de que Deus faria o melhor por mim.
Vivi cada dia com uma intensidade única. Tentei manter a tranquilidade, curtir a gravidez e a minha família.
O grande dia
Não era 25 de maio, mas naquele dia 14, acordei com uma dor intensa. Meu marido já havia saído para trabalhar e meu filho estava dormindo. Hesitei em acreditar que fosse contração.
Alguns minutos a mais na cama e já não dava para duvidar. Eu estava entrando em trabalho de parto – cenário que os médicos temiam bastante e, desde o início, alertavam que isso não poderia acontecer, porque os riscos poderiam ser ainda maiores.
Antes que eu chamasse alguém para ajudar, surpreendentemente, meu marido chegou antes da hora habitual.
Nossos ânimos estavam à flor da pele.
Deixamos nosso filho com a avó e seguimos para maternidade.
Ao chegar, os médicos e enfermeiros não acreditavam que eram contrações.
Quando isso se confirmou, fui para um último ultrassom. A preocupação geral era tanta, que era preciso ver como estava o bebê, antes de antecipar a cirurgia.
O milagre
Eu, ali, deitada na maca para o exame, e o médico, em estado de choque. Ele não acreditava no que estava vendo.
“Não há mais placenta prévia”, dizia o profissional. Ela está na posição correta, não cobre o colo do útero e nem apresenta qualquer risco. A bebê está encaixada e vai nascer de parto normal.
Meu marido acompanhou tudo.
Maria Clara nasceu de forma bem rápida. Parto normal e tranquilo.
Não há explicação.
Amamentei minha princesa desde os primeiros minutos de sua vida.
Todos os dias, agradeço a Deus e a Nossa Senhora não só pela minha filha, mas também por ter me permitido viver e cuidar da minha família.
As dificuldades virão, mas é preciso acreditar. Sempre. Milagres existem – e isso nunca foi tão forte dentro de mim como é hoje.
Um feliz ano novo!
* Gislene Aparecida do Prado Nogaroto, mãe da Maria Clara e do Davi.
Revisão e edição: Deize Renó. Crédito da foto do cabeçalho: Pixabay.
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