Deize Renó*

Daqui a pouco, completamos dez dias sem “mamá”. Foram 23 meses e 20 dias de amamentação por livre demanda. Quanto orgulho dela e meu também. Nem acredito que vencemos essa importante etapa de nossas vidas. Logo eu que pensei que não daria conta. Que ouvi tantas histórias… Que tinha o peito pequeno e um histórico sem muitos casos de amamentação na família. Que comprei várias mamadeiras e copos alternativos para me socorrer quando o meu leite, que nunca foi muito, secasse.

Tive um começo até que fácil. Poucas rachaduras e, desde a gestação, basicamente, duas orientações do meu obstetra: “tranquilidade” e “aproveita, porque passa”. Assim foi. Ouvi muitas opiniões, é verdade. Com algumas, fiquei bastante indecisa. Outras, no entanto, foram como fábulas de infância, entraram por um ouvido e saíram pelo outro…

No meu caso, a decisão de amamentar exigiu outras decisões, outras mudanças, outras opções.

Logo no início, minha pequena – que nasceu abaixo do peso e só atingiu a média da idade depois de 1 ano e meio – foi decidida: nada de mamadeira. Nenhum bico. Nenhum modelo. Nenhum leite, que não fosse o meu. Ótimo para ela. Mas, naquele momento, minha insegurança só aumentava. E como seria quando eu não estivesse com ela?

Para ajudar, eu não conseguia tirar o leite. Nem da forma manual, nem com bombinha. Não chegava a 10 ml. Resultado: tinha que estar com ela o tempo todo.

Decidi não insistir mais. Permaneci com ela. Graças a Deus, isso foi possível. Tenho certeza de que a convivência integral nos trouxe mais tranquilidade, maturidade e intimidade para enfrentar o nosso dia a dia e os desafios que vieram depois. Fomos até os seis meses, mamando exclusivamente no peito.

Depois, vieram as papinhas e os outros alimentos. A introdução alimentar dela foi sensacional. Verduras, legumes, frutas. Não rejeitou nada [e ainda hoje é assim]. Mas, fomos do nosso jeito. Nada de BLW. Essa foi outra opção. Aqui em casa, esse método não deu certo. Seguimos aprendendo e criando outros.

Até um ano, leite, só o meu. Depois disso, aceitou bem o mingau de frutas com o leite de fórmula. E seguimos. Na fome, na viagem, no soninho, lá estava o “mamá” [e também, os olhares de julgamento de alguns]. Não teve chupeta, nem “naninha” de dormir, nem ursinho ou boneca para fazer companhia na hora do sono. Só o “mamá”. E foi ótimo assim. Aproveitamos cada minuto, juntas.

Esses dias, fiquei surpresa com a avaliação de uma mãe. Juro, de uma mãe. Ela me disse que amamentação é coisa de família carente, de quem não tem como pagar um bom leite de fórmula. Na hora, fiquei sem reação. Em pleno século XXI, quando a informação parece estar disseminada e, a todo momento, vemos campanhas e pesquisas comprovando os benefícios do leite materno, ainda tem gente que prega (não é só uma opinião, mas uma tentativa de persuasão) o contrário… e alega vaidade, limpeza e sei lá mais o quê.

É verdade que existem muitas opiniões, situações e realidades. Cada caso é um caso. Às vezes, amamentar pode não ser possível. E é importante que saibamos reconhecer isso.

Se amamentar tem a ver com inteligência, independência e maturidade, como dizem pesquisas e especialistas, ainda não sei. Só sei que, para nós aqui em casa, não foi só um ato de amor, mas a certeza de ter escolhido o melhor alimento e a alegria de ter permanecido assim até quando quisemos. Só temos a agradecer.

Agora, às vésperas de completar dois anos, decidimos encerrar esse ciclo. Na paz. Com tranquilidade, mas cheias de saudade e um “quê” de quero mais. Chegou a hora de parar.

Às vezes, principalmente, à noite, ainda escuto minha tagarelinha quase dormindo: “Mamãe, o que eu queria mesmo era um mamá…”. Bate um aperto no peito. Logo, ela por si só esquece, pega seu copinho de canudo (até hoje, nada de bico…) e bebe seu “suquinho” de fruta (só com fruta… rsrsrsrs).

Meu corpo também já dá sinais de que foi bom enquanto durou. Engraçado, mas parece que tudo foi sendo planejado dessa forma pelo meu próprio organismo. De repente, pouco antes de parar de amamentar, as cólicas voltaram. A disposição já não é a mesma. O leite já está no fim.

Às futuras mamães, só digo uma coisa: Amamentar é muuuuuuuuito bom. Para nós e para nossas crias. Por isso, insista. Persista. Acredite em você. Se conheça. Vá até onde der. Forme suas opiniões e o resto… faça sair pelo outro ouvido.

Por aqui, chegamos aos 1.000 dias. Juntas, desde a gestação até os dois anos. E fortalecidas, prontas para seguir. Que, daqui para frente, tenhamos tranquilidade, aproveitemos as novas fases e saibamos, de novo, aproveitar cada dia, porque passa…

2017-05-15 15.35.48

Deize Renó é mãe da Maria Luiza, jornalista, canceriana e idealizadora deste blog.


Crédito da foto em destaque: Pixabay

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