Nina Regato*
Quatro e meia da tarde de um sábado quente e ensolarado. Finalmente, iria para o quarto conhecer a minha pequena. A Mel chegou ao mundo às 10h31, mas por conta de um outro parto complicado na sequência do meu, minha espera tornou-se interminável até que conseguissem descer comigo.
Não aguentava de ansiedade. Só tinha visto minha filha ali, no centro cirúrgico, mas não via a hora de tê-la em meus braços, olhar seu rostinho e sentir seu cheiro. Passei a gravidez toda imaginando que cheiro ela teria e nós ali, tão próximas, mas nada de me levarem até ela.
Estava tão ansiosa que, mesmo depois de dois calmantes aplicados na veia, eu não conseguia (e nem queria) dormir. Foram nove meses na expectativa e eu não poderia estar dormindo quando ela chegasse. Fiz até amizade na sala de espera.
“Pilhada”, puxava papo com todas as mães recém-paridas depois de mim. Quem me conhece sabe que não sou disso. Mas era um dia atípico. O mais emocionante da minha vida. Queria conversar!
Aliás, queria pular daquela maca e gritar aos quatro cantos que minha filha tinha nascido e era a minha cara (isso segundo meu marido, porque eu chorava tanto na cesárea que não me atentei às características físicas dela).
Falei tanto que, em determinado momento, uma das mulheres me indagou: “Você não está com sono?”. Olhei em volta e percebi que realmente todas estavam sonolentas. Menos eu. Entendi o recado e me calei.
A cada enfermeira que entrava eu perguntava se não iam me levar. O efeito da anestesia já tinha passado há “séculos” e eu já estava pondo a perna quase na cabeça – elas esperam até que consigamos mover as pernas para nos levar para o quarto.
Só sei que o efeito da anestesia passou bem rápido, mas a espera foi longa. Minha filha tinha nascido às 10h31 e já eram 16h30! Enfim, chegou a hora! Desci radiante!
Entrei no quarto e depois de uns 10 minutos, finalmente, estava diante do amor da minha vida. Estava tão eufórica que nem dei bola para as “boas-vindas” da enfermeira que me alertou que minha filha era brava demais.
Confesso que, mesmo tendo saído de mim e de já amá-la, tive uma sensação estranha. Era um serzinho que eu nunca tinha visto antes, um desconhecido que agora dependia exclusivamente de mim para sobreviver.
Olhava para aquela menininha tão pequeninha que sugava o meu peito como se o mundo fosse acabar ali.
Por sorte, ela já nasceu sabendo mamar direitinho. Li durante a gravidez que muitas mães sofrem com a pega errada, com bico invertido e mais um monte de problemas da amamentação. Graças a Deus, com a gente não teve nada disso e eu tinha bastante colostro.
As primeiras mamadas foram tranquilas até que a madrugada chegou e, com ela, o sono. A Mel estava mamando a cada meia hora desde que nasceu, mas foi só a madrugada chegar que ela não queria sair do peito por nada.
Começava ali um sofrimento. Bastava tirar o peito da boquinha dela que ela esgoelava. Alto, estridente, um choro ardido e escandaloso. Lembrei-me do que a enfermeira tinha falado quando chegou com ela.
Ao contrário dos recém-nascidos, minha filha não era desses bebês que só mamam e dormem. Ela queria interagir… rs. Passava o tempo acordada também. Eu e meu marido ficamos em claro a noite toda e, para completar, o meu quarto era ao lado do posto de enfermagem e as enfermeiras estavam alvoroçadas, em clima de sábado à noite.
Tudo começou a me irritar. O sono, o pós-parto, as enfermeiras que pareciam estar na mesa de um bar e minha filha que não parava de chorar e nem de mamar. Tadinha. Não queria me irritar com ela.
Morrendo de vergonha, chamei uma enfermeira e perguntei sobre a possibilidade de dar mamadeira para a minha filha dormir um pouco. Sim, eu queria cochilar ao menos um pouquinho. Me senti a pior mãe do mundo por isso. Ainda bem que ela teve bom senso e não permitiu, afinal eu tinha leite para dar e minha filha estava mamando perfeitamente.
O dia amanheceu e nós pregados de sono. Naquele domingo fui antipática com todas as visitas que recebi. Queria esganar uma a uma… rs. Que elas não me leiam aqui.
Queria chegar logo em casa, para o sossego e aconchego. Fomos embora na segunda-feira, para uma rotina completamente nova e cheia de aprendizados.
Li bastante durante a gravidez sobre dicas para os cuidados com o bebê, vivências de outras mães e tudo mais que apareceu na minha frente.
Eu não cogitei em nenhum momento ter parto natural. Queria cesárea. Muitas mulheres me chamaram de louca, que era terrível, dolorido, com pós-parto péssimo. Não sei se tive sorte, mas achei muito tranquilo. Não era nada daquilo que tinham me falado. Talvez eu tenha ido achando que seria um terror e por isso não me assustei. Mas é tranquilo mesmo. Imagino que o parto natural deva ser traumático de dor.
Também li sobre cansaço, mas nesse ponto eu não imaginava que seria tanto, beirando a exaustão. Minha mãe e meu marido foram fundamentais nesse momento (e continuam sendo). Não sei como seria sem os dois, mas é uma barra cuidar de um bebê.
As noites seguintes em casa não foram muito diferentes das do hospital. Muitas mamadas, um chororô sem fim e muito, muito sono. Ela dormia pouco e não sobrava tempo para eu me dar esse luxo.
Meu leite demorou quase uma semana para descer. Quando ele finalmente veio, a barriguinha dela ficava mais cheia e ela dormia mais, me dando uma trégua de uma hora e meia ou duas para descansar.
Tinha leite demais. Por isso, uma das mamas começou a empedrar e ficar quente, como se fosse uma febre local. Não sabia nada sobre mastite. Novamente fui eu ler sobre o assunto e aprendi a ordenhar o leite manualmente (não me adaptei às bombinhas). Resolveu minha vida.
A situação foi melhorando e segue assim, dia a dia. Hoje, a Mel está com três meses e eu já me adaptei às poucas horas de sono, ao banho rápido, aos dias que não consigo lavar o cabelo, à pia cheia de louça e à poeira que vejo sobre os móveis. A casa ficou em segundo plano.
Não tem como conciliar tudo. Eu, sempre tão neurótica com limpeza e organização, estou aprendendo também a não me importar tanto com isso. Cada minuto com a minha pequena é precioso, desde as mamadas, o fazer arrotar e as fraldas sujas de cocô. Não abro mão de estar ao lado dela em cada instante, que já passa a ter novidades no seu desenvolvimento.
É exaustivo? É sim. Mas passa tão rápido, tão rápido, que a gente sobrevive! E, por incrível que pareça, já dá até saudades dos primeiros dias…
Nina Regato é jornalista e mãe da Mel.