Meu sonho de ser mãe começou há dez anos.

Iniciamos as tentativas e nada. Fizemos tratamentos e também não tivemos sucesso.

Meu marido sempre falou em adoção. Eu ponderava. No fundo, ainda tinha expectativa de que conseguiria engravidar.

De certa forma, vivi a maternidade desde que nos casamos. Meu enteado veio morar com a gente aos seis anos. Já se passaram dez. Hoje, ele está se preparando para o vestibular e sempre o tive como filho.

Um sentimento novo

Em dezembro de 2013, participei de uma campanha de Natal da empresa onde trabalho e fomos entregar os presentes em um abrigo.

A partir daí, comecei a olhar o mundo de outro jeito.

Num dos momentos, lá no abrigo, uma pequena tocou meu coração. Ela tinha oito meses e estava lá, sozinha. Parecia uma bonequinha.

Fiquei apaixonada e senti um desejo muito forte de adotá-la, de levá-la comigo, mas não haveria nenhuma possibilidade – simplesmente, porque não estávamos incluídos no Cadastro Nacional de Adoção.

Na hora, me senti frustrada e muito triste.

Depois disso, conversei muito com meu marido.

Passamos um ano amadurecendo essa decisão, reunindo os documentos e, finalmente, decidimos nos cadastrar.

No mesmo período, também optamos por iniciar um novo tratamento para engravidar.

O início da trajetória

Preparamos toda a documentação necessária para a adoção, acertamos todos os detalhes, passamos por cursos e avaliações. Não foi fácil.

Só continuamos porque a adoção era mesmo uma vontade e uma decisão muito bem definida entre nós.

Em 2015, fomos habilitados para entrarmos na fila. Nosso perfil era uma criança de 0 a 2 anos, que poderia ter irmão até os 6 anos. Não escolhemos sexo, nem cor.

Enquanto esperávamos, o nosso tratamento para engravidar dava resultados. Engravidei duas vezes, mas, infelizmente, sofri dois abortos. Um espontâneo com 6 semanas e o outro retido de 3 meses.

Tristeza. Muita tristeza.

Fizemos uma bateria de exames até descobrir o motivo dessas perdas: a presença do fator autoimune. Mais tristeza.

Estava escrito

Meu segundo bebê era pra nascer no final de março de 2017 e eis que, no dia 6 de abril, recebemos a tão esperada ligação.

Estavam nos convocando para comparecer ao Fórum no dia seguinte.

Ao chegarmos lá, a assistente social e a psicóloga avisaram: Havia uma criança de oito meses dentro do nosso perfil.

A orientação era seguir para o abrigo naquela mesma hora.

Chegamos. Recepção, berçário.

Nesse momento, tudo o que posso dizer é que foi um “encontro de almas”. Não consigo ver de outra forma.

Foi mágico. Deus tocou nosso coração.

Vivi tudo em alguns minutos. Era como se eu tivesse esperado nove meses, vivido a gravidez toda e agora recebesse meu bebê nos braços.

Kevin. É o nome dele.

Foi inexplicável, muita emoção… choro, amor, felicidade. Uma mistura de tudo.

De repente, pais

Após conhecer nosso bebê, ficamos 13 dias em processo de adaptação no abrigo até a liberação da guarda provisória.

Nesse período, tivemos o apoio da nossa família e, principalmente, dos nossos amigos.

Por mais que estivéssemos na fila e nos preparássemos para isso, não tínhamos feito enxoval, nem arrumado nada.

De repente, acordamos pais de um bebê de oito meses.

Foi tudo muito intenso.

Recebemos uma força gigantesca dos nossos amigos.

O Kevin teve dois chás de bebê. Um feito pelos amigos do trabalho. E outro em casa. Ele participou dos dois. Foi maravilhoso.

Laços de vida

Temos uma eterna gratidão aos amigos que nos apoiaram nesse momento tão especial e à empresa onde trabalho. Recebi muito apoio, ajuda e compreensão.

Fiquei quatro meses de licença maternidade. A cada dia, 24 horas intensamente junto do meu bebê. Nunca vou esquecer isso. Foram dias em que me reconheci mãe e fortalecemos os nossos laços.

Foi nos dado a opção de alterar o nome da criança, mas queríamos respeitar a história dele. Além disso, depois de entender o significado do nome Kevin, “amado desde o nascimento”, não tivemos dúvidas. O nome seria mantido.

Tempo

Na adoção, paciência é um requisito fundamental.

Do dia em que o Kevin chegou em nossa casa, demorou 11 meses e 1 dia para a certidão de nascimento com os nossos nomes ficar pronta.

Foi um alívio. Apesar de estar tudo certo, só ficamos tranquilos de verdade, quando esse documento chegou em nossas mãos.

Desde sempre…

Hoje, o Kevin está com 1 ano e 9 meses.

E esses têm sido os dias mais felizes de nossas vidas.

Estamos escrevendo a nossa história juntos. Como tinha de ser. Como Deus preparou.

A sensação que temos é de que Ele esteve conosco em todos os momentos. E de que o Kevin era nosso filho desde sempre.


1993
Magda Abreu Goulart é profissional de Recursos Humanos, mãe de coração do Kevin e do Pedro. Na foto, a família reunida, ao lado paizão Edson.

Contents