Deize Renó*

Tirar a Maria da fralda tem sido, para nós, uma experiência de amadurecimento e paciência. Posso afirmar que é uma das fases mais desafiadoras que vivemos até hoje. Por mais que eu tenha lido várias coisas sobre isso, assistido vídeos e visto várias técnicas, eu achava que não ia conseguir… porque nada do que eu lia, ouvia ou assistia tinha a ver com a gente. Eu sabia que não ia ser num passe de mágica ou num “aprenda em dez passos”…

E, olha que ela é super tranquila, esperta, fala de tudo, se incomoda e avisa da fralda suja há vários meses… Era para ser tudo mais fácil. Enquanto insistia no processo, eu só ficava imaginando xixi para todo lado e pensando em “como eu vou dar conta de mais isso”.

Pode ser paranoia, mas só quem vive a experiência de trabalhar em home office, ter as demandas da maternidade e ainda todas as preocupações da casa, sabe o que eu estou dizendo. Na verdade, acho que, se dependesse só de mim (meu marido foi fundamental nesse processo), eu ia deixar o desfralde para a tia da escolinha se preocupar no ano que vem, quando a Maria estivesse lá… e ia ir justificando para mim e para os outros que ainda não estava na hora.

O tempo

Antes de começar efetivamente o desfralde, tentei várias vezes e desisti. No início, sempre que dava errado, eu voltava atrás e colocava a fralda. Tentava evitar o estresse. Por outro lado, em várias compras, eu jurava que seria a última leva de fraldas…. rsrsrsrsrs Fiz isso por umas três ou quatro vezes.

Maria Luiza tem 2 anos e 2 meses. Como subestimei minha pequena…

Ainda estamos na fase final, usando fralda só para dormir ou em pequenas viagens, mas os avanços dela até aqui foram surpreendentes. Falo de avanços não só por fazer xixi ou cocô no penico. Falo de avanços e mudanças na personalidade, no amadurecimento e no conhecimento de si própria.

Como agradeço a Deus por estar vivendo isso com ela!

A maternidade é uma escola. Você aprende a identificar seus limites, suas falhas, seus pontos fracos e começa a perceber que o mundo gira de outra forma… que as crianças têm e precisam ter um outro ritmo. Que o amadurecimento – o seu e do seu filho – vem com os desafios, por menores que sejam.

Acho que cada criança vive o desfralde de um jeito. E não existe fórmula para isso, nem tempo (verão ou inverno) e nem idade certa… O que existe são experiências…

O desfralde

Aqui em casa, o desfralde “efetivo” veio numa semana difícil e só serviu para nos mostrar, mais uma vez, que “ficar junto” faz todo sentido, ainda mais nesses momentos de novos aprendizados.

Antes, eu queria iniciar o desfralde, mantendo minha rotina de afazeres exatamente como ela é. Só que para ajudar minha filha a passar por esse momento da vida dela, meu horários precisavam ser reformulados…

Foi então que a Maria Luiza pegou conjuntivite. Isso mesmo. Recomendação do pediatra: colírio e sete dias de reclusão em casa, sem contato com outras pessoas, especialmente crianças. Para ajudar, os pais dela são totalmente de primeira viagem e morrem de preocupação com um espirro, imagina com os olhinhos vermelhos e doloridos… Além disso, que triste… dias de sol e nada de amiguinhos. Resultado: vamos treinar mais um pouco o desfralde… rsrsrsrs

E assim foi.

Tiramos a fralda e ficamos aqui nos divertindo com o peniquinho… Mais próximas do que nunca.

A cada 30 minutos, uma pergunta básica: “Vamos fazer xixi?” Depois de muitos acertos e muitos escapes também, em sete dias já estávamos bem alinhadas com isso… mas não totalmente. Foram necessários mais sete. E mais sete. Acho que vamos para quase um mês…

Não precisava ser com a conjuntivite, mas foi necessário isso para pararmos um pouco no tempo.

Acredito que o desfralde não é só um ato de tirar a fralda. É um rito de passagem.  É um momento único que tem muita ligação com o amadurecimento, a personalidade e a evolução da criança no dia a dia.

Não tenho uma dica ou um conselho. Agora, avaliando tudo que vivemos. Só penso que, antes do desfralde acontecer, é preciso realmente “parar”.

Os aprendizados

Ainda rola uns tropeços por aqui, quando a Maria quer chamar atenção ou quando não dá para segurar por algum motivo… mas seguimos aprendendo. Para nós, o que fez sentido, acima das técnicas e dos passos milagrosos, foi ficar junto. Acompanhar o processo de perto e sentir a evolução a cada dia.

Seguimos aprendendo.

O desfralde foi só um dos desafios que estão sendo vencidos.

Viver a maternidade é chorar e rir ao mesmo tempo. É morrer de raiva e de alegria intensamente. É aprender uma outra noção de tempo e de mundo. É comemorar o cocô e o xixi no penico e depois ouvir da sua mocinha: “Você ficou felizi, mamãe?”

Filha, você é um presente de Deus. Nosso orgulho para sempre. Vamos tentar mais uma vez sem fralda? E assim seguimos…

Deize e Maria Luiza
Crédito das fotos: João Pedro Morente

* Deize Renó é mãe da Maria Luiza, jornalista, canceriana e idealizadora deste blog.

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