Pai revela o verdadeiro sentido da paternagem

Conheça a história de “Maricotinha”, um anjo que caiu do Céu para ensinar uma lição de amor e entrega. O texto é do papai Rafael Rodrigues.


Não me lembro ao certo o dia, mas ao mesmo tempo, nem me parece tão longe… Quando eu peguei o envelope, com as mãos suadas e descobri que iria ser pai. Naquele instante, não imaginava a grandiosidade dessa missão e, ainda assustado, me perguntei (e me arrependo disso…): “Como eu pude deixar isso acontecer?”.

Sim, foi por um descuido, que eu aprendi o significado da palavra cuidar. Mais do que isso, logo em seguida, nove meses depois, descobri o verdadeiro significado da palavra amor. Paternidade, para mim, é amor. Incondicional, irrestrito, inimaginável.

No decorrer dos primeiros meses, eu vivia a paternidade de forma mágica, acreditando que, dificilmente, sentiria algo tão intenso. Mas descobri que a paternidade, não é tão simples assim, e para mim não foi.

A descoberta da doença

Logo aos seis meses de vida da minha filha, após um problema de saúde, todo aquele amor e aquela imensidão de sentimentos ficaram ainda mais intensos, e junto com eles, também a fé e a esperança de continuar vivendo esse sonho de ser pai.

Em julho de 2013, minha filha teve uma parada cardiorrespiratória (a primeira de muitas outras). Daquele dia em diante, fui obrigado pela vida, a dar mais valor por cada suspiro da minha pequena.

Depois de um tempo, descobrimos que ela tinha uma doença chamada Esclerose Tuberosa.

Pelos prognósticos médicos, eu não a teria por muito tempo. Sua vida estava por um fio, não podia mais pega-la no colo, nem morder e assoprar sua barriga. Já não ouvia mais suas gargalhadas e nem a via mais sentada comendo papinha.

A fé

Só aparelhos e orações a mantinham viva, além da minha fé e esperança de voltar com ela para casa.

A luta continuou e tive que aprender a ser um pai, não em casa, mas em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foi lá, onde passamos quase um ano inteiro, vendo a luta diária da minha princesa para sobreviver e continuar conosco.

E contrariando a todos e a tudo, ela sobreviveu a mais algumas outras paradas cardiorrespiratórias, a mais alguns desenganos médicos e, com isso, fui aprendendo e valorizando cada minuto, cada segundo, ao lado do meu maior bem.

A distância

Ficava meses sem tê-la em meus braços. Mas, vê-la de olhos abertos já me satisfazia. Aprendi a viver o momento com ela, esse único e inédito momento de ser pai de uma criança pra lá de especial.

Hoje, em casa [mas uma outra casa, adaptada para ela e perto do hospital], ela ainda vive com várias limitações. Respira e come com ajuda de aparelhos. Não anda, e não “fala”. Mas cada sorriso e evolução, por menores que sejam, mostram-me o quanto essa luta tem sido gloriosa.

Não a vejo muito. Ela mora em São Paulo, por conta de suas necessidades. E eu no interior, por conta do trabalho. Mas, para mim, todos os fins de semana são mágicos, cheios de amor, alegria, afeto e doação.

E eu, que pensava que seria o norte para minha filha, a pessoa que ia instruí-la e ensiná-la, fui e continuo sendo um mero aprendiz. É ela quem me ensina o verdadeiro significado do amor, da paternidade, da alegria, da superação e da fé.

Amor maior do mundo

E desde aquele dia, em julho de 2013, quando ouvia dizer que ela não iria sobreviver, até hoje, já se passaram quatro anos.

Há quatro anos que eu tento ao máximo aproveitar cada minuto que posso com ela, da forma que for, com as limitações que forem. Doando-me ao máximo e por inteiro à minha filha.

Acredito que esse carinho, esse amor e essa doação são as coisas que mais importam na vida. E posso dizer que não há amor maior do que aquele que sentimos pelos nossos filhos.

Rafael Rodrigues
Crédito: Arquivo pessoal

* Rafael Rodrigues é jornalista e pai da Maria Julia, chamada carinhosamente de “Maricotinha”.

Obs. Maria Julia faleceu em 11 de novembro de 2017.

Crédito da foto em destaque: Pixabay

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