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Dia das Mães: “Romantizações e estereótipos maternos não deveriam ser celebrados, mas sim questionados”

A feminista Joanna Burigo faz duras críticas, mas reconhece que o Dia das Mães deve sim ser celebrado, especialmente, pelo “trabalhão” que é ser mãe numa sociedade tão machista como a nossa…

 

Questionar e não aceitar passivamente as coisas, é a grande mensagem da feminista Joanna Burigo* neste Dia das Mães. Para ela, que exerce um papel super importante em vários movimentos pelo Brasil, faz muito sentido comemorar o Dia das Mães, porém, sem romantizar e sem colocar a mulher em falsos pedestais. Veja a entrevista completa:

Qual a importância de celebrar o Dia das Mães?

Joanna Burigo: A maternidade pode até não ser pauta central ou prioritária de todos os feminismos, mas, de uma forma ou de outra, nenhum escapa de abordar a questão.

Apesar de nem todas as mulheres serem mães, todas as mulheres têm mãe. E este papel, este conceito, esta palavra, mãe, salvo exceções, é preenchida por mulheres.

Celebrações podem ter efeitos positivos ou negativos dependendo do que é celebrado, e como. Romantizações da maternidade, e estereótipos maternos, por exemplo, não deveriam ser celebrados, mas sim questionados.

Celebrações levianas e comerciais são motivo de crítica feminista, pois atravessam a luta política feminista, que é por equidade, respeito e justiça, e não por colocar a mulher em falsos pedestais.

Insistir nas romantizações e estereótipos maternais apaga as realidades da maternidade. O feminismo nos convida a pensar nas formas como a maternidade é organizada socialmente, e nas formas como essa organização pode ser opressiva para as mulheres.

Tendo dito isso, visto o trabalhão que é ser mãe na nossa sociedade, tão machista, acho que é importante sim celebrarmos as mães, nos seus dias e no restante do ano.

Como você avalia o impacto da questão mercadológica nas comemorações pela data?

Joanna Burigo: Creio que a publicidade – e sou publicitária de formação! – seja bastante responsável por esvaziar os significados de muitas datas comemorativas, não apenas o dia das mães.

Diante de uma sociedade que, hoje, vive um momento de maior abertura e de diversidade de gêneros, o Dia das Mães ainda deve ser comemorado?

Joanna Burigo: Depende. Penso que nas escolas, por exemplo, comemorações como o dia das mães, e dos pais, podem ser ressignificadas. Um dia da família, quem sabe, contemplando famílias que não estão formatadas a partir do pressuposto da heteronormatividade “Pai + Mãe + Filhos”. Eventos que celebrem as singularidades de cada formação familiar, sem exclusão.

Mas repito: não vejo problema em celebrarmos a maternidade, ou as mães, muito pelo contrário. Só acho importante fazermos isso criticamente.

Qual a sua opinião sobre o evento da ONU HeForShe*?

Joanna Burigo: Desigualdades são um problema de todos, então não deixo de achar importante que uma instituição como a ONU tome a frente de puxar homens para a conversa. Só penso que não pode virar um novo protagonismo deles como “príncipes encantados”, salvadores das mulheres. Quero que os homens façam o exercício da autocrítica, quando se trata de gênero, e que jamais falem por nós, mas sim conosco.

Você se define como feminista?

Joanna Burigo: Sim, feminista profissional.

* Joanna Burigo é fundadora da Casa da Mãe Joanna, experimento feminista de educação e comunicação sobre gênero. Atuou no mercado de publicidade e marketing no Brasil e no Reino Unido, onde também trabalhou como professora. Co-fundadora do Guerreiras Project e Gender Hub, e coordenadora da EmancipaMulher, vem se dedicando a empreendimentos feministas desde que completou seu mestrado em Gênero Mídia e Cultura pela London School of Economics. Joanna também é organizadora de dois livros, o Tem saída? Ensaios Críticos sobre o Brasil, e o Novas Contistas da Literatura Brasileira, lançados pela Editora Zouk, e escreve regularmente para Carta Capital.

** O evento HeForShe, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), se define como “esforço global para envolver homens e meninos na remoção das barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir seu potencial, e ajudar homens e mulheres a modelarem juntos uma nova sociedade”. Mais informações: http://www.onumulheres.org.br/elesporelas/


Crédito da foto do cabeçalho: Pixabay.

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