Diante de um cenário conturbado, a nova geração continua precisando de amor, valorização e também de limites, avalia a psicóloga Natália Castanha*
A sociedade mudou, as pessoas mudaram e aos pais** precisam se atualizar. Por outro lado, o amor, o afeto e o contato com o próximo continuam imprescindíveis. Só o teclado do smartphone não cumpre esse papel. Nessa entrevista, a psicóloga Natália Castanha faz uma reflexão sobre o cenário atual, as novas gerações, os casos de suicídio e o papel dos pais nesse contexto.
Direto do Nosso Jardim: Qual o maior desafio dos pais e das famílias no mundo de hoje?
Natália: O cenário atual é formado por múltiplas famílias. São dois pais e uma criança; duas mães e uma criança; uma mãe, um pai e um filho; uma mãe e seus filhos; um pai e seus filhos; uma vó, um vô e seus netos filhos… Essa é uma realidade hoje.
Precisamos compreender e trazer isso para o nosso cotidiano como algo natural. É importante que os pais estejam sempre conversando com os filhos, que tenham saúde mental e que busquem se atualizar. Ao contrário do que muita gente pensa, a geração de agora não é melhor, nem pior do que as gerações passadas. Este é o mundo que vivemos e ele pertence a esses novos jovens.
DNJ: Algo muito recente é a questão do suicídio entre os jovens, popularizado após o jogo “Baleia Azul”. Por que isso está acontecendo?
Natália: Esse é um fato que sempre existiu, mas que hoje está mais evidente. Não se pode negar que, das gerações passadas até hoje, alguma coisa aconteceu para que se chegasse a esse ponto.
Ao invés de julgar a geração atual, dizendo que “merece uns tapas na bunda”, é preciso refletir, já que quem está criando essa geração é quem levava “os tapas na bunda”. O que aconteceu nesse meio tempo, que fez com que a geração que apanhava está educando uma geração superprotegida, dentro de um controle, mas ao mesmo tempo, sem afeto, sem contato com o próximo?
DNJ: A culpa é dos pais?
Natália: Não acredito que tenha culpados. Acredito que tudo mudou e esse cenário é resultado dessa mudança. Talvez ela não tenha sido “digerida” por todos.
É muita informação, muita tecnologia e pouco conhecimento. Muito “tecla tecla”. Muito “Whatsapp” e pouco contato humano. Pouco abraço. Pouca troca. Acho que é uma consequência não só das atitudes dos pais…
Acredito que os pais precisam ter mais sensibilidade e devem começar a olhar para os seus filhos, sem querer enquadrá-los em como eram os jovens do passado. Precisamos tentar entender o que está acontecendo.
O que os pais precisam fazer é começar a olhar a realidade atual e tentar entender, sem julgamentos: “que mundo é esse onde o meu filho está vivendo?” É preciso ter empatia. Colocar-se no lugar do filho, perguntar o que ele está sentindo e ouvi-lo.
DNJ: Na prática, como a maioria dos pais está agindo diante dessa nova geração?
Natália: O que observamos, muitas vezes, são os pais bancando financeiramente tudo o que os filhos pedem, mesmo sem poder. Eles dão um jeito para adquirir alguma coisa e deixarem os filhos iguais aos colegas… Eles bancam tudo, mas esquecem de valorizar o próprio filho.
Há uma diferença entre você pagar tudo e você valorizar. O bancar, o pagar, tem a ver com preço. O valorizar tem a ver com valor. Hoje, nem todos os pais valorizam os filhos. Isso vai desde assistir a uma apresentação do filho até respeitá-lo em suas decisões.
Nem sempre o que o filho precisa é o que o pai ou a mãe acha que ele precisa. É necessário conversar, entender.
DNJ: Respeito de ambas as partes é fundamental…
Natália: Sim e não se pode esquecer que os limites continuam sendo necessários. Existe um momento em que os pais precisam interditar e falar “não”. Temos conseguir dosar o afeto com essa interdição. O filho também precisa conhecer os limites e entender por onde ele pode transitar; ele precisa dessa referência.
* Natália Castanha é psicóloga, psicoterapeuta na abordagem Psicologia Analítica Junguiana, consultora em Recursos Humanos, palestrante e docente.
http://www.nataliacastanha.com.br
** Em toda a entrevista, quando se diz mãe e pai, faz-se uma referência a todas as pessoas que desempenham a função materna ou paterna, sendo ou não genitores.
Crédito da foto em destaque: Pixabay
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