Cibelli Marthos*
Sempre desejei ser mãe. Mais ainda, sempre desejei ter uma família grande, com pelo menos três filhos… Na vida real, a maternidade é a melhor coisa na vida de uma mulher, mas também um grande desafio diário e, por isso, até agora, tive dois filhos e ainda não sei se darei conta de um terceiro.
Minha primeira filha nasceu quando eu tinha 23 anos. Naquele ano, eu havia acabado de me formar na Universidade. Estava com muitos sonhos e planos. Queria trabalhar numa grande e renomada empresa, fazer viagens internacionais e voar por aí.
Um relacionamento de quatro meses, iniciado um ano após a conclusão de minha faculdade e que terminou quando descobri a gravidez, trouxe o maior presente da minha vida. E, por outro lado, a maior revolução que eu poderia viver.
Os nove meses de gestação foram marcados por sessões de terapias e um apoio incansável da minha família. A terapia foi um meio de encarar melhor o abandono e a carência que sentia naquele momento.
Meu pai, que sempre depositou grandes expectativas em mim, falou pouco naqueles meses iniciais, mas me disse uma coisa que guardo até hoje. “Seus sonhos não estão acabados, apenas adiados”. E isso foi algo que conclui mais tarde.
Em outubro de 2006, minha Manuela nasceu. Desde então, minha vida mudou radicalmente. Seu primeiro ano foi, talvez, o mais difícil e prazeroso. Seu aniversário foi um marco de independência e de libertação para mim, de um passado recente bastante tumultuado e confuso.
Meses depois ingressei no curso de pós-graduação em São Paulo, na faculdade onde sempre quis estudar. Lá, confirmei que a maternidade só agrega, nunca atrapalha a vida de uma mulher.
A chegada de uma filha, junto com ela, as festas de final de ano da escola, de dias das mães, as manhãs, os cuidados, as preocupações e o amor que transborda qualquer limite, tornaram-me mais responsável como pessoa e profissional.
Quando minha pequena completou quatro anos, conheci uma pessoa muito especial e decidi dar uma nova chance para mim. Comecei a namorar e, em 2015, me casei. Começávamos a construir a nossa família.
Eu ganhei um parceiro de vida e de sonhos. Minha menina, além de um amigo, ganhou também um pai de coração.
Com um ano de casados, ganhamos Gabriel, um bebê saudável que chegou para alegrar a casa dez anos depois da Manu.
A gravidez planejada, a companhia e a participação de um pai nesse processo… era tudo novidade para mim. Foram meses de expectativa e planejamento.
O nascimento do caçula foi um novo marco e a confirmação de que, sim, é possível criar um filho sozinha, mas criar um filho ao lado de quem se ama torna tudo ainda mais completo.
Aos nove meses de vida do Gabriel, ainda me pego tomando decisões e iniciativas como se ainda estivesse sozinha, como se ainda não tivesse com quem compartilhar.
Tenho tentado me corrigir e entender, de uma vez por todas, que não preciso ser a única responsável pela criação de um filho.
Hoje, vivo os dilemas de entender a mente de uma pré-adolescente tímida, um tanto fechada, inteligente e cheia de talentos. Minha parceira de vida, minha filha e minha amiga, com quem dividi os anos mais intensos da minha juventude.
Ao mesmo tempo, redescubro os prazeres de ter um bebê em casa, de vibrar com o seu desenvolvimento e de me derreter por cada sorriso gostoso que ele dá quando me vê.
Tenho muita sorte em ter comigo dois irmãos que se curtem e se amam. Manu me ajuda muito com o Gabriel e a relação dos dois me enche de orgulho.
Vivo a maternidade de formas distintas.
Intensamente, acompanho cada fase deles e vivo em mim, o próprio desafio de encarar minhas diferentes funções como mãe, esposa e jornalista.
As responsabilidades, o trabalho, a correria, os esquecimentos… tudo aumentou. Mas, a cada dia, acordo mais realizada, mais feliz e com muito mais coragem para me superar.
* Cibelli Marthos, é jornalista, canceriana e mãe da Manuela e do Gabriel.
Crédito das fotos: Mayara de Paula Fotografia
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