Correr para a academia assim que se descobre uma gravidez não é a solução; na opinião da fisioterapeuta Roberta Rodrigues*, é preciso cautela, bom senso e uma dose generosa de amor por si e pelo seu filho
Sair de uma gestação e uma semana depois estar “magérrima”, linda e maravilhosa é o desejo de muitas mulheres. Na vida real, porém, não é bem assim. A verdade é que, nesse período, ela sequer terá tempo de se olhar com calma no espelho. Apesar disso, na pressa por voltar ao peso ideal, muitas mães – assim que conseguem um tempinho – correm logo para a academia. Ou, então, assim que descobrem a gravidez, mesmo sem nunca terem feito qualquer exercício físico, saem em busca de algum às pressas. Especialistas garantem que ter uma vida saudável com a prática regular de atividades físicas é recomendável em qualquer fase da vida. E isso é muito positivo. Mas, em algumas situações, é preciso cautela.
O Pilates é muito procurado nesse sentido por concentrar exercícios de baixo impacto e muito focados nos músculos abdominais. Mas, para a fisioterapeuta Roberta Rodrigues, a obsessão pelo corpo perfeito também não combina com a modalidade e muito menos com a saúde e o bem-estar de uma gestante.
Nessa entrevista, Roberta, que é instrutora de Pilates e especializada em Fisiologia do Exercício pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, fala dos benefícios da modalidade para todas as pessoas, em especial as gestantes, mas também desmistifica alguns pontos. Como, por exemplo, como deve ser administrado nos primeiros meses da gestação; quando voltar à prática após o parto; e a ideia colorida de fazer Pilates com os bebês. Confira.
Direto do Nosso Jardim: O que é o Pilates?
Roberta: É uma técnica que foi desenvolvida por Joseph Pilates, um alemão, que trabalhou com a reabilitação de soldados na II Guerra Mundial e, mais tarde, com a reabilitação de bailarinos nos Estados Unidos. Depois disso, a técnica foi difundida para o mundo. O Pilates atua na tonificação muscular de todo o corpo, além do alongamento, do fortalecimento e do alinhamento corporal. É uma técnica bem completa, que atinge um grande número de patologias, além de trazer uma consciência corporal muito grande.
DNJ: Qual o profissional autorizado a ministrar o Pilates?
Roberta: Hoje, no Brasil, temos dois profissionais autorizados a ministrar o Pilates: o educador físico e o fisioterapeuta. Em outros países, o Pilates também é ministrado por bailarinos e artistas corporais. Dependendo da especialidade do profissional, a abordagem acaba sendo um pouco diferente. Na educação física, ele é considerado um exercício físico. Na fisioterapia, busca principalmente a reabilitação.
DNJ: Quem pode fazer Pilates?
Roberta: Não há uma contraindicação. São mais de 500 exercícios que conseguimos trabalhar dentro do Pilates, então, se o aluno ou o paciente não consegue realizar um exercício, é possível dosar e adaptar a aula ou a sessão para cada pessoa, até o aluno ir evoluindo.
DNJ: Qual a importância do Pilates na gestação?
Roberta: Durante a gestação, temos uma modificação em vários sistemas corporais, devido ao aumento de peso e a modificação do centro de gravidade, além do músculo abdominal, que sofre uma grande tensão. Um dos principais objetivos do Pilates, em geral e especialmente na gravidez, é fortalecer a musculatura abdominal (chamada de “power house”, para nós, “casa de força”), trazendo estabilidade para a coluna, desde a lombar até a pelve. Por isso, todos os exercícios do Pilates são iniciados a partir do centro de força.
DNJ: Quando a gestante deve procurar o Pilates?
Roberta: Na realidade, o ideal é que a gestante procure o Pilates antes mesmo de engravidar, para que tenha tempo de se familiarizar com a modalidade, de estar apta à prática dos exercícios e de adquirir confiança e consciência corporal, antes da gestação.
Por trabalhar com a técnica há um tempo, percebo que muitas gestantes chegam para fazer aula após o primeiro trimestre e, ao executarem exercícios de fortalecimento do músculo abdominal, ficam com receio. A partir daí, começa uma corrida contra o tempo. As primeiras aulas acabam sendo de adaptação com a técnica, com a respiração, com o alongamento e com o fortalecimento muscular. Isso, dependendo do aluno, pode demorar de 2 a 3 meses. No caso da futura mamãe, quando isso acontecer, ela já está com seis meses de gestação. Assim, quando estiver adaptada à técnica, já é hora de parar.
Portanto, se não for possível iniciar o Pilates antes da gravidez, minha recomendação é que a gestante procure a modalidade antes mesmo dos três primeiros meses, porque o Pilates não tem contraindicação. Isso, é claro, caso não haja restrições por parte do seu médico.
DNJ: Quais os benefícios do Pilates para o parto normal e a cesariana?
Roberta: Basicamente, o Pilates ajuda a mulher a fortalecer o músculo abdominal, muito solicitado durante e após a gestação. No parto normal, fortalece os músculos que auxiliam na expulsão do feto. Na cesariana, é importante também, especialmente no pós-parto.
DNJ: Como assim?
Roberta: Após o parto, muitas mulheres começam a apresentar dores nas costas, por causa da posição de amamentar, por inclinar o corpo no cuidado com o bebê, por ficar muito tempo com a criança no colo… Enfim, são situações que exigem força do músculo abdominal. Se ela fortaleceu esse músculo antes da gestação, a tendência é que sua coluna tenha mais estabilidade e não incomode. Como no Pilates, trabalhamos muito com o “power house”, o beneficio é imediato, assim como a melhora da postura.
DNJ: Qual sua opinião sobre a mãe que busca realizar o Pilates com seus bebês?
Roberta: Pela experiência que tenho, não recomendo Pilates com bebês. Acredito que os primeiros momentos do pós-parto devem ser dedicados a maternidade em si. Hoje, na sociedade, há uma cobrança muito grande para que a mãe saia da maternidade com “barriga zero”, algo quase impossível. Afinal, durante nove meses, houve uma modificação muito grande em todo o seu corpo, com ganho de peso, aumento do líquido corporal… o que é normal pelo processo fisiológico que ocorre nesta fase. Anormal é uma mãe que sai da maternidade e em poucos dias aparece em uma revista com o corpo escultural.
É necessário respeitar o processo natural pós-parto. Hoje em dia, a mulher além de se preocupar com o bebê, é cobrada por sua forma física. O que recomendo é que a mãe retorne às aulas de Pilates quando já tiver passado os primeiros meses e já esteja mais adaptada com a nova rotina. Joseph Pilates diz que, durante a aula, o aluno precisa estar presente, concentrado e não distraído. É a mente que esculpe o corpo. Acredito que ela deve dar um tempo, esperar um pouco mais, curtir essa fase em casa e, depois, voltar tranquila e se concentrar só no Pilates e no seu corpo.
Além de tudo isso, como a mãe vai segurar o bebê e se exercitar? Vai fazer exercícios só para a perna? Porque não tem como colocar um bebê de um mês, apoiado na perna da mãe, para ela fortalecer a musculatura dos braços? É um risco muito grande…
Por outro lado, quando a criança já está numa idade um pouco mais avançada, que já compreende algumas situações, é interessante acompanhar a mãe nas aulas de Pilates, o que se torna um grande estímulo para sua vida… O exemplo da mãe poderá incentivar a criança na busca por uma atividade e por uma vida mais saudável.
DNJ: Qual a diferença básica entre o Pilates e outras atividades físicas?
Roberta: Qualquer atividade física é boa quando lhe dá prazer. O Pilates não é o melhor dos exercícios. Ele também tem limitações, como por exemplo, não queimar muitas calorias, porque não é uma atividade aeróbica. Mas, com ele, conseguimos fortalecer e alongar a musculatura ao mesmo tempo. Ele traz uma consciência corporal muito grande e consegue trabalhar muitos músculos em um único exercício, integrando todo o corpo, diferente de outras atividades que atuam em músculo por músculo. O Pilates é ideal para quem quer ter um corpo definido por inteiro, com baixo risco de lesão.
* Roberta Rodrigues é fisioterapeuta pós graduada em Fisiologia do Exercício (FMUSP) e mestre em Ciências do Envelhecimento. Mãe do Gabriel e da Isabela. Facebook: @pilatesrobertarodrigues
Crédito da foto em destaque: Studio de Pilates Roberta Rodrigues
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